quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A Argentina é o Brasil num universo paralelo?

Por Fernando Castilho


Para uma corrente de cientistas nosso universo pode não ser uno, mas sim multi. Vários universos coexistindo paralelamente poderiam teoricamente comportar acontecimentos parecidos com o que ocorrem no nossos, porém com possíveis diferenças de tempo e de desenrolar da História.

Muitas são as semelhanças do momento político de Brasil e Argentina. Muitas são as diferenças também.

Maurício Macri é o Aécio Neves que deu certo num universo paralelo?





A eleição de Maurício Macri, candidato da direita por margem apertada contra Daniel Scioli, candidato do governo de Cristina Kirchner, interrompe 12 anos de kirchnerismo.
Como no Brasil, o governo argentino desde 2003 realizou obras importantes no sentido de melhorar a vida do povo. Reduziu a pobreza, ampliou o mercado doméstico, reestatizou empresas que haviam sido privatizadas por Calos Menem, atuou na integração latino-americana, reduziu sua dependência em relação aos EUA, investiu na Unasul, reviu a lei que anistiava os crimes contra os Direitos Humanos praticados durante a ditadura militar, ampliou a tributação dos mais ricos e aprovou a Ley de Medios.

Como no Brasil, também, a nova classe que emergiu passou a exigir mais do governo.

Imediatamente surgiu um candidato neoliberal afoito em acabar com tudo isso que está aí, mas sem propostas concretas para o país. Macri é o Aécio Neves hermano.

Porém, se Aécio foi derrotado no Brasil, Macri, após uma reviravolta sensacional no segundo turno, venceu na Argentina.

A Dilma de lá não conseguiu eleger seu poste, Daniel Scioli.

Homem sem expressão, sem carisma e aparentemente sem a garra necessária para vencer, ou talvez deixando de se empenhar por achar que a vitória seria fácil, Scioli, mesmo sem aguardar o último voto, cumprimentou Macri pela vitória, cravando assim importante diferença em relação ao candidato derrotado no Brasil.

Macri então se torna uma nova e importante cabeça de ponte da direita na América Latina, além de Peru, Chile, Colômbia e México.

Tentará espalhar seu neoliberalismo. E já começou, mesmo sem ainda ter assumido, ao declarar que a Venezuela deverá deixar o Mercosul.

Já colocando as manguinhas de fora, o jornal La Nacion publicou um editorial em que defendeu a revisão de penas aos ditadores e torcionários do regime militar de 1976-83. Os jornalistas do próprio jornal repudiaram o editorial. Isso demonstra o que serão os próximos 4 anos na Argentina.

Na esteira desse editorial, os jornais deverão solicitar a Macri que elabore projeto anulando a Ley de Medios. E ele deverá atendê-los.

A Venezuela poderá em breve também dar sua guinada em direção à direita, quando se realizar seu próximo pleito.

A retomada da América Latina pela direita é estratégica para os Estados Unidos que investem cada vez mais na derrubada dos governos de esquerda, seja através de financiamentos a candidatos neoliberais, seja através da grande mídia ou ainda através do uso de redes sociais e de movimentos pró impeachment e pró golpe.

O PT pode se dar por feliz por ter vencido em 2014, mesmo por margem apertada. Dilma se segura ainda no governo e pode conduzi-lo aos trancos e barrancos até 2018.

Mas se seu candidato a sucessor for um Scioli, nada feito.

A lição veio então da Argentina e o PT tem muito a aprender com ela.

Se a Polícia Federal, o Ministério Público, O STF e a mídia não lograrem prender Lula até lá, só ele terá condições de prosseguir no projeto progressista para o Brasil.

Para o PT, mais uma vantagem: a presidente chilena Michelle Bachelet teve seu candidato Eduardo Frei derrotado em 2010 por um direitista como Macri, Sebastian Piñera.

Em 2014, diante do fracasso do governo neoliberal, o povo percebeu que era feliz e não sabia e elegeu novamente Bachelet.

Até 2018 a Argentina deverá mostrar ao Brasil que o neoliberalismo não melhorou o país.

Bastará então mostrar isso ao eleitorado brasileiro.




sábado, 21 de novembro de 2015

A lição que os estudantes estão dando a Alckmin

Por Fernando Castilho
Charge: Vítor Teixeira



O governo federal recebeu muitas críticas após ter escolhido o tema ''Pátria Educadora'' como lema ou missão para 2015.

''Quer esconder o descaso com a educação'', bradaram alguns.

''Dilma é demagoga'', gritaram outros.

Outros ainda classificaram a presidente de hipócrita, uma vez que a educação parece que não avança no país.

Realmente, poderia estar muito melhor.

Mas será que Dilma arca sozinha com a responsabilidade?

Quantos desconhecem que o governo federal repassa verba para os estados e municípios administrarem as escolas estaduais e municipais?

Quantos não sabem que em 2002 o orçamento federal para a educação foi só de 17 bilhões, em 2014 cresceu para 94 bilhões e em 2015 atingiu 101 bilhões de reais?

Ah, mas cortaram esse orçamento!

Ok, o corte foi de 1 bilhão, é verdade. Mesmo assim, 100 bilhões!

Folha de São Paulo noticiou o corte com sua costumeira maneira de mostrar e omitir de acordo com o que lhe interessa. Não esclareceu na matéria o montante do orçamento, só o corte.

Bem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, manteve para 2015 os mesmos 28,4 bilhões de reais, ''esquecendo-se'' que a inflação no período foi de 7%, o que deveria resultar em 30,4 bilhões. Na prática, cortou 2 bilhões de reais na educação! A mídia não deu um pio, para variar.

Além disso, seu projeto de ''reorganização'' e fechamento de 94 escolas sem que houvesse diálogo com a população envolvida, demonstrou, além de autoritarismo, descaso com a educação.

São Paulo definitivamente não é um estado educador.

No momento em que escrevo, 85 escolas foram ocupadas por seus alunos.

Trinta dessas escolas apresentam, segundo o Estadão, desempenho acima da média, o que dá a dimensão da irresponsabilidade do governador.

A mídia trata o assunto como invasão, esquecendo-se que invasões são ações executadas por entes externos a um território e nunca pertencentes a ele.

Alunos de escolas públicas são legítimos ocupantes desse espaço público. Cabe a eles utilizá-lo na forma para o qual foi criado e zelar por ele. Defender esse espaço público contra agressões também se inclui aos seus deveres.

Nesse período de quase duas semanas em que as ocupações foram começando e chegaram a este espantoso número, fomos todos surpreendidos pela atitude tomada por esses estudantes na maioria pobres sem condição de pagar uma escola particular que possa facilitar seu ingresso numa faculdade.

Esses meninos e meninas, com estilo próprio de sua juventude, numa ação cívica defendem suas escolas contra a invasão da polícia truculenta de Alckmin que quer tirá-los à força. Demonstrações de violência por parte da polícia contra estudantes e professores já aconteceram, sempre ocultadas pela mídia. Típico modus operandi de governadores tucanos, vide Beto Richa no Paraná.

Alckmin já tentou até reintegração na posse, mas a justiça não concedeu é claro. Reintegrar na posse só se aplica em casos em que o bem público é invadido, o que não é o caso, como vimos acima.

Os alunos limpam os pátios e salas de aula, cozinham alimentos doados por várias entidades, inclusive o MST com seus orgânicos, fazem vídeos para o youtube, aprendendo a se expressar melhor oralmente, realizam reuniões e assembleias, etc..

O tiro de Geraldo Alckmin acaba saindo pela culatra.

Se uma das intenções era de sucatear o ensino público para entregá-lo de bandeja para a iniciativa privada, o governador conseguiu somente que os estudantes aprendessem em apenas duas semanas o conteúdo de um ano inteiro ou mais de Sociologia.

Nossos estudantes agora também são mestres em cidadania, solidariedade e organização.

Aprendem também a prática democrática de votar decisões e acatá-las.

A lição de vida que estão tendo vale muito mais que qualquer trabalho acadêmico feito burocraticamente só para tirar nota e passar de ano.

Indiretamente, graças ao governador de São Paulo, surge uma nova geração que saberá, já nas próximas eleições, escolher seus governantes e representantes com mais consciência política e dar o troco na hora certa.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Como Aécio sem querer inviabilizou o golpe

Por Fernando Castilho




Repararam? Claro que sim.

A mídia parou de falar em impeachment de Dilma.

Forçados por ela, mas também pelos empresários, leia-se aí a Fiesp e a Fierj, os tucanos de Aécio Neves desistiram de impedir a presidente. Pior, foram forçados a parar de inviabilizar o país e passar a colaborar para que a crise econômica seja superada

Além disso, devem ter em mãos algum tipo de avaliação da população sobre seu comportamento patético até agora.

Pesquisa recente do Ibope, espalhafatosamente divulgada em manchetes pela mídia indicou que, para as eleições de 2018, Lula é o recordista em rejeição com 55%. Claro, com os ataques diários que passou a sofrer depois que os jornais desistiram de Dilma, não é nenhuma surpresa.

Mas para Aécio, a rejeição de 47%, depois de tudo o que ele fez pela queda da presidente, deve ter caído como uma bomba.

Pior, quando o leitor se aprofunda um pouco mais, indo além das manchetes, descobre o que os jornais tentaram esconder, ou seja, que Lula tem 23% da preferência do eleitorado enquanto que o tucano ostenta somente 15%, depois-de-tudo-o-que-ele-fez-pela-queda-da-presidente.

Os tucanos desistiram de derrubar Dilma?

Não, mas o sonho está cada vez mais distante e depende de um golpe que o TSE possa dar ao cassar sua candidatura, o que também é um tanto improvável.

Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior acabaram por manchar suas biografias ao elaborarem pareceres jurídicos frágeis e apaixonados a favor do impeachment, que não se sustentam, na opinião de outros próceres como Dalmo Dallari e Celso Antônio Bandeira de Mello.

Paralelamente a isso, a revelação bombástica sobre as contas secretas na Suíça do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, explicitou à uma gente que babava pelo impeachment, que o protesto pela sujeira estava com o foco errado. Fora que o homem vai se aguentando no cargo já há mais de um mês sem que mexam com ele. Impunidade é outro ponto nevrálgico se quisermos passar o Brasil a limpo.

Então, o que foi feito daquela gente branca-verde-amarela que saiu às ruas em março? 200 mil pessoas, segundo o Datafolha?

Perderam a esperança nos tucanos e em seu líder no golpismo, Aécio Neves.
Depois de tantas decepções, que se atreveria ainda a defender esse golpe?

Em 15 de novembro os grupos de revoltados online, MBL do Kim e outros, organizaram o que seria a manifestação de arromba na esplanada dos ministérios em Brasília. Dilma cairia naquele dia mesmo.

Mas quem compareceu? Cerca de 2000 pessoas.

Onde estavam os pró impeachment? Não foram. Já estão em outra.

Os doidos que se deslocaram pra lá estavam exigindo a volta da ditadura militar. Só sobraram eles, praticamente.

Queriam a volta de um regime que não permitia manifestações contra o governo. Pior, um regime que na época mandava o exército prender, torturar e matar quem se opunha ao regime como eles estavam fazendo.

A Polícia Militar do Distrito Federal já havia sido colocada em prontidão depois que foi descoberto um arsenal de armas brancas e uma arma de fogo no carro de um membro do MBL acampado no terreno do Congresso.

Foi também por esse motivo que a PM, responsável pela manutenção da segurança no local, teve que intervir depois que os manifestantes ameaçaram invadir o Congresso.
Foram usados sprays de pimenta, mas a repressão foi bem light se comparada aos tempos difíceis.

Foi engraçado ver aqueles patetas fugindo dos militares, como naquele tempo.

Como se não bastasse, acusaram a PM de truculência e violência, típicos do regime-comunista-de-Dilma que não permitiu que eles protestassem democraticamente exigindo a ditadura.

Mais loucura coletiva que isso não deve haver.

Bem, mas se dependemos de um bando de loucos para que uma presidente eleita seja derrubada, estejamos seguros que ela ainda terá mais três anos de governo pela frente.

Precisa agora começar a governar de fato, sem que sabotadores estejam em seus calcanhares.

E a Aécio resta agora tentar superar sua imagem desgastada por tantas pataquadas. A citar, a auditoria no TSE acerca do processo eleitoral que o avalizou, a viagem a Venezuela para tentar entrevistar um preso político, que não deu em nada, o parecer jurídico frágil pelo impeachment, a forçada apeada do impeachment, a retirada a contragosto do apoio à Eduardo Cunha e o amargo segundo lugar na preferência para 2018.

Pode-se, portanto, imputar a ele o fracasso do golpe.

Deve ser por isso que ele está fazendo uma espécie de retiro nas últimas semanas.

Deve rever seus conceitos, se quiser chegar com alguma reputação a 2018.




sábado, 14 de novembro de 2015

É possível um elo entre Mariana e Paris?

Por Fernando Castilho





Quando cheguei a uma certa idade comecei a fazer uma retrospectiva histórica, filosófica e sociológica do Brasil e do mundo, mais detidamente durante as décadas que vivi.

Óbvio, para mim, pelo menos, que principalmente a partir do fim da 2° guerra mundial, com a disputa pela hegemonia no poder por Estados Unidos e União Soviética, o mundo começou a mudar e se tornar no que é hoje.

Os Estados Unidos ao urgirem se impor ao bloco soviético, foram às últimas consequências para demonstrar que o sonho americano, o american way of life, o país livre, eram muito superiores ao que o comunismo pregava.

E realmente eram. Pelo menos do jeito que as coisas estavam acontecendo.

A publicidade extrapolou todos os limites ao explicitar ao bloco ocidental que se as pessoas não consumissem sem parar, não contribuiriam para a manutenção do sistema.

A exploração de recursos naturais se impôs, uma vez que havia a necessidade de suprir a indústria de matéria-prima.

A proliferação de produtos eletro-eletrônicos exigiu a construção de mais e mais usinas, sejam elas hidrelétricas, que destroem o meio ambiente ao redor, sejam elas termoelétricas, que poluem a atmosfera, ou nucleares que podem causar grande contaminação, como Chernobyl ou Fukushima.

A obsolescência programada pelas empresas fez com que as pessoas trocassem seus produtos por outros assim que modelos novos fossem sendo lançados ou assim que os ''antigos'' com mais de um ano de fabricação começassem a quebrar sem que o conserto fosse a opção mais econômica.

A Educação deixou de priorizar a produção de conhecimento, a pesquisa científica e o pensamento intelectual. Criou-se um funil destinado a selecionar somente aqueles que fossem capazes de serem úteis à manutenção do sistema. Aqueles que jamais perderiam seu tempo em reflexões acerca das conjunturas humanas, sociológicas, econômicas, filosóficas ou históricas, mas sim, o canalizariam em 100% para o crescimento das empresas em que trabalham.

Afinal, era prioritário que eles galgassem cargos mais altos nas empresas.

Aqueles que não passavam no funil ou que nem mesmo a chance tiveram de passar por ele, eram obrigados a viverem suas vidas também de forma a alimentar o sistema, mas de outra forma. Seriam a mão de obra mais pesada das empresas e galgariam postos sempre inferiores.

Outros seriam excluídos totalmente por terem nascido em lares muito pobres e desestruturados, não tendo a chance sequer de pensar em entrar para o sistema. São os miseráveis hereditários do mundo, que nem sabem por quê estão aqui. Muitos não veem outra opção para sobreviver senão entrar para o crime, que pode lhes garantir, pelo menos por algum tempo, a ilusão de como os do andar de cima vivem.

A guerra fria acabou mas o american way of life prosseguiu em cavar o mundo cada vez mais avidamente, afinal, para alimentar o sistema e aumentar os lucros era imperativo extrair dele o máximo que se pudesse.
Marx previu tudo isso e mais, mas não vamos falar dele sob pena de que o texto seja acusado de comunista, muito em voga nos dias de hoje, certo?

Chegamos aos dias de hoje em que 1% da população mundial detém 50% de toda riqueza.

Como riqueza não se cria, apenas se transfere (numa adaptação livre de Lavoisier), não há como melhorar a vida dos restantes 99% sem melhorar a distribuição dessa riqueza. Mas esquece, isso não será feito. Thomas Piketty falou sobre isso em seu livro ''O capital no século 21 ''.

Então o sistema criou uma casta de deuses que domina o mundo e uma multidão de simples fieis. Alguns não serão fieis como se verá adiante.

Para aumentar os lucros os deuses tudo podem.

Pausa para uma estória verídica.

Na década de 1970 a Ford americana lançou um automóvel chamado Ford Pinto, alguém se lembra?

Pois bem, o Ford Pinto tinha um erro de projeto. O tanque de combustível fora colocado atrás, muito próximo ao para-choques, o que fazia com que a cada colisão traseira, o tanque explodisse matando ou mutilando seus ocupantes.

A Ford foi processada por alguns familiares de vítimas.

Durante o julgamento, apareceu um memorando interno dando conta de um cálculo que a empresa fez.

Nesse cálculo estimava-se que o custo para reparar o erro seria de 11 dólares por veículo.

A Ford estimou que, caso um certo número de vítimas a processasse e ganhasse, ainda assim seria mais barato manter o carro do mesmo jeito.

Chegamos a um ponto na História da humanidade em que a busca do lucro se sobrepõe facilmente à vida.

Por décadas esse sistema se infiltrou no nosso DNA, de forma que contestá-lo se torna heresia nos dias de hoje.

Ao que tudo indica, vamos até o fim com ele, como o sapo que morrw ao ser cozido lentamente na panela, quando teve oportunidade de sair.

Sinto tristeza em ver que o mundo ocidental foi tomado por essa ideologia da qual não consegue escapar.

Tudo isso que foi escrito se destina a tentar explicar os acontecimentos de Mariana e de Paris.

Mariana

Em Mariana, subdistrito de Bento Rodrigues, o que aconteceu foi uma busca incessante por lucros em detrimento da segurança.

Burlas em laudos técnicos, fraudes, corrupção de agentes vistores e de governadores, tudo isso faz parte da rotina de uma grande empresa que só se preocupa com lucros.

Nenhuma barragem, obra de engenharia que deve ser bastante segura em seu projeto, se rompe da noite para o dia sem dar sinais antes.

Os sinais podem ter sido vários, desde fissuras no concreto até estalos bem altos.

A tragédia foi anunciada em nome de se obter maiores lucros pois a interrupção de funcionamento para reparos e manutenção teria custos.

Indo para Paris

Em 2013 apareceu um grupo com pretensões a derrubar o regime de Bashar al-Assad, presidente da Síria. Barack Obama rapidamente, informado pela CIA, enxergou a possibilidade de ajudar o grupo na defenestração de Bashar para pretensamente colaborar para a instauração de um governo democrático no país que lhe possibilitasse usufruir do petróleo ali existente.

Para não dar na vista, Obama divulgou à mídia que iria combater o EI. Pelo contrário, as armas que o grupo emprega são de fabricação norte-americana.

O grupo só se fez crescer.

Quem se agregou ao grupo? Sim, os excluídos de vários países do mundo que viram em sua adesão ao EI uma oportunidade de fazer alguma coisa de suas vidas sem espaço no sistema em que vivem.

Vimos ingleses, franceses a até americanos ingressarem voluntariamente no EI.

A Rússia decidiu intervir e vem abrindo baixas significativas no EI. Obama não gostou.

Provavelmente em pouco tempo a Rússia consiga acabar com o Estado Islâmico.

O que aconteceu em Paris talvez seja um canto de cisne para o grupo.

Porém, o que aprendemos das lições passadas nos últimos dias?

Nada.

O mundo continuará a prosseguir na mesma trilha equivocada em que está, a fraternidade universal não será alcançada, o Papa Francisco poderá ser morto a qualquer momento, outros ''acidentes'' ambientais ocorrerão, novos grupos de excluídos e inconformados surgirão e a humanidade está com seus dias, talvez décadas, contadas.

Alguém acha que sou muito pessimista, ou apenas realista?

Não há a mínima possibilidade de mudança.

Os deuses são como aquelas pessoas que tem carros blindados e que vivem em condomínios cercados por segurança extrema.

Desde que tenham sua própria segurança, que acabe o mundo ao seu redor.

Abre-se mais uma champanhe.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

''A ESCOLA É NOSSA!''

Por Walter Takemoto


Este texto de Walter Takemoto dá bem uma ideia da situação que o ensino público em São Paulo está vivendo.

Os tão sofridos alunos das escolas públicas do Estado de São Paulo estão sofrendo uma dor que não pode ser sofrida nessa fase da vida.

Quando vejo uma foto como a que ilustra este texto, sinto arrepios. Estudantes da escola pública defendendo sua escola e bradando: ''A ESCOLA É NOSSA!''

O governador Geraldo Alckmin, que só sabe usar de truculência e autoritarismo não pode tirar desses jovens o mínimo que eles têm, o direito de estudar, mesmo sem as condições que as escolas particulares oferecem aos que vêm de classes mais abastadas.


Só espero que, passado este pesadelo, a experiência adquirida por essa resistência que alguns jovens estão oferecendo ao projeto de Alckmin, sirvam para torná-los cidadãos cônscios de seus direitos e deveres, afinal, há males que vêm para bem.


O governo do Estado de São Paulo decidiu reorganizar a rede estadual de escolas do estado. Em nome da racionalização, da contenção de despesas e de uma discutível política educacional, decidiu fechar parte das escolas em um processo claramente autoritário, desconsiderando os profissionais da educação e os estudantes.

A partir do anúncio público, professores, estudantes e pais realizaram várias manifestações na capital e cidades do interior, contra a medida e exigindo a abertura de negociações. E mais uma vez o governador respondeu com o mesmo método que utilizou em outros momentos: a truculência da Polícia Militar contra professores e estudantes. Professores e adolescentes algemados, gás de pimenta, agressões físicas.

Nesse momento, estudantes estão ocupando escolas que o governador decidiu fechar. E para enfrentar o perigo grave de estudantes ocupando uma escola, o governador determinou o corte do fornecimento de água, o cerco pela Polícia Militar e ingressou na Justiça com pedido de reintegração de posse. Afinal, para o Alckmin, a escola é dele, não é dos professores, estudantes e da população. E fica uma pergunta: se a justiça conceder a reintegração de posse, o governador vai mandar a tropa de choque invadir a escola e prender todos que nela estiverem?

E essa mobilização dos estudantes das escolas públicas de São Paulo me fez refletir sobre a função social da escola.

Alguns anos atrás, trabalhando no Acre, me deparei com uma notícia que relatava a presença de estudantes do ensino médio de uma escola privada de São Paulo, dessas que ocupam os primeiros lugares no ENEM, que estavam em Xapuri conhecendo os seringais e a vida do Chico Mendes.

Para os filhos da elite, não basta estudar em livros, assistir filmes, é preciso ir a campo, conhecer presencialmente, vivenciar a realidade. Afinal, estão sendo formados para dirigir corporações, comandar pessoas, tomar decisões, dirigir os rumos do País.

Enquanto isso, nas escolas públicas, falta até mesmo os livros, as salas de vídeo, um ônibus que possa levar alunos da periferia para um museu, centro cultural ou qualquer atividade fora das salas de aula.

Afinal, estudantes de escolas públicas na imensa maioria serão trabalhadores, irão obedecer, cumprir ordens, terão subempregos, serão a mão de obra disponível quando for necessário.

Para esses, basta o livro didático ou o pacote educacional que os treinarão até onde interessa que aprendam, no retorno da velha discussão de décadas atrás de que servirão para apertar botões, ligar e desligar máquinas, e hoje podemos dizer que no máximo saber utilizar aplicativos produzidos pela Microsoft.

Mas os meninos e as meninas das escolas públicas de São Paulo, como volta e meia acontece, resolveram mudar o roteiro escrito pelo Alckmin.

E novamente, quando muitos pensavam que o famoso ME, ou movimento estudantil, tinha sido domesticado, ou burocratizado, de uma vez por todas, surge novamente o vigor e a ousadia adolescente pelas ruas e avenidas. E novamente sentimos florescer o mito do poder jovem nos gritos, mãos e sorrisos dessas meninas e meninos.

Que a imaginação e o sonho algum dia cheguem ao poder.

Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, plantas, sentimento
Folhas, coração, juventude e fé”

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O picolé autoritário

Por Fernando Castilho


Foto: IstoÉ




O que se passa na cabeça do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que após 16 anos cultivando a alcunha de ''picolé de chuchu'' pelo seu imobilismo, resolve mudar, adotando o estilo truculento?



Dos 20 anos de tucanato, Geraldo Alckmin ostenta, entre vice de Mário Covas e governador de São Paulo, incríveis 17 anos à frente do Executivo Estadual.

Nos tempos de Covas, Alckmin pouco se sobressaiu devido à personalidade forte do governador.

Após o falecimento de Covas, Alckmin assumiu o governo recebendo em pouco tempo a alcunha de ''picolé de chuchu'', uma vez que era figura apagada.

Essas figuras apagadas são interessantes. Se você não quer sofrer nenhuma crítica, não deseja se envolver em polêmicas, você simplesmente...não faz!

Geraldo Alckmin seguiu à risca essa cartilha até 2014. Os problemas do Estado de São Paulo pela inação do governo se avolumaram.

O Metrô estava estagnado há anos, o que acarretava estações e trens superlotados.

O escândalo do tremsalão, embora blindado pela mídia, era alvo de investigações inclusive na Suíça.

A crise hídrica por omissão do governador que não criou novos reservatórios, apesar de ter se comprometido à isso durante a assinatura da outorga, estourou. Ao racionamento de água Alckmin deu outro nome eufemístico: restrição hídrica.

A Polícia Militar matava cada vez mais, demonstrando que não havia um plano de segurança pública.

A USP estava em greve devido ao sucateamento imposto pelo governo.

Os pedágios eram os mais caros do país contribuindo em muito para o encarecimento dos produtos e para a inflação nacional.

Nesse ano de 2014, quando se esperava que o povo paulista desejasse que a outrora locomotiva do Brasil que estava estacionada há tanto tento tempo, começasse a queimar carvão e a se movimentar, veio a decepção. Alckmin se reelegeu em primeiro turno, o que demonstrou claramente que a população queria mais do mesmo.

Começou o ano de 2015 e percebemos que Geraldo começou a se mover, enfim.

Mas seu movimento nunca foi no sentido de começar a arrumar a casa que ele bagunçou por tanto tempo.

O Metrô continua do mesmo jeito. Pior, contratos foram cancelados, talvez por medo das investigações do tremsalão que envolvem também seu nome.

A crise hídrica não arrefeceu, mas num non sense total, o governador ganhou prêmio de Gestão Hídrica oferecido pela Assembleia Legislativa dominada pelos cupinchas tucanos.

A PM agora, não só matava como também chacinava pessoas, como em Osasco. Além disso, começou a bater em professores da rede estadual que estavam em greve.

Então o governador resolveu inovar, coisa que nunca foi de seu estilo.

Determinou sigilo de contratos do Metrô e de dados da Polícia Militar.

Mentiu em relatório sobre o número de mortos pela PM.

Inventou uma tal de reorganização das escolas estaduais (outro eufemismo para fechamento). Com isso, 94 colégios estão sendo fechados, vários deles com ótimo aproveitamento.

Fica evidente que há um plano em mente.

Possivelmente a terceirização do ensino público. Não se descarta também que colégios particulares estejam interessados em abocanhar fatias, uma vez que para muitos estudantes a mudança será muito prejudicial.

Então, estudantes secundaristas resolveram resistir e protestar.

A Escola Estadual Fernão Dias Paes Leme de Pinheiros, São Paulo, a Escola Estadual Salvador Allende Gossens na zona leste da capital e a Valdomiro Silveira de Santo André, foram ocupadas pelos estudantes secundaristas.

Alckmin imediatamente enviou a PM para a Fernão Dias Paes ao invés de dialogar e iniciar negociações.

Manifestantes contra a reorganização protestavam nas imediações da escola quando foram reprimidos pela PM com gás de pimenta!

Como os alunos do Fernão Dias Paes decidiram em assembleia passar a noite na escola, Alckmin mandou cortar a água! Além de pedir reintegração na posse, que poderá gerar confronto com a PM.

Bem, muito já foi dito sobre a nova postura que o governador tomou neste ano.

Autoritário, truculento, sem disposição ao diálogo, Geraldo Alckmin é pré candidato à presidência da República em 2018, talvez pelo PSB já que Aécio Neves não deve lhe oferecer a legenda que quer para ele próprio.

Mas, se todo político que almeja cargo tão alto procura se apresentar como simpático e popular, Alckmin vai no sentido contrário.

Mas a julgar pela pesquisa Datafolha que mostrou que metade dos paulistas apoia a reorganização e fechamento de escolas, o governador pode estar na direção certa para concretizar o seu sonho.

Numa tentativa de explicar o que se passa na cabeça do governador é preciso lembrar que o Estado de São Paulo, e mais notadamente sua capital, tem demonstrado durante todo este ano uma aproximação com o fascismo.

Demonstrações de intolerância, violência e preconceito de classe estão tomando conta de corações e mentes de muita gente.

Alckmin parece estar indo na contra-mão do prefeito Fernando Haddad que ostenta alta rejeição justamente entre essas pessoas de classe média.

Pode ser por isso que Alckmin esteja mirando nessa direção.

Como faltam 3 anos ainda para 2018, Geraldo pode estar lançando um balão de ensaio até que uma pesquisa eleitoral saia às ruas com muito tempo ainda para mudança de rumos, caso esteja errado.

Se a popularidade estiver em alta, podemos esperar mais autoritarismo e truculência pela frente. Ele vai surfar nessa onda.

Caso contrário, esperemos uma nova Madre Tereza, cínica.





segunda-feira, 9 de novembro de 2015

2018, o ano que começou em 2014

Por Fernando Castilho




A eleição para presidente do Brasil em 2018 talvez seja a que começou mais cedo em toda a História.

Serão quatro anos de disputa eleitoral ferrenha. O primeiro já está se encerrando e deu bem a ideia do que esperamos para os próximos.


Ainda em 2014, ao saírem os resultados das urnas, a revista Veja anunciou que Dilma deveria sofrer processo de impeachment.

Aécio Neves, inconformado há mais de um ano, tenta ainda o golpe sobre a presidente, já que não há meios legais de destituí-la.

Mas enquanto Dilma vai resistindo mesmo que sangrando, a movimentação para sua sucessão já começou faz tempo.

Aécio, com sua falta de habilidade política, conduz o PSDB, partido que tinha nomes como Mário Covas, Sérgio Motta e Brésser Pereira, para o lado da direita mais reacionária, burra e fascista do país.

Os tucanos agora se perfilam, levados pelo senador Aloízio Nunes e pelo deputado Carlos Sampaio, ao lado do revoltadão e vendedor de camisetas online. Aquele mesmo que age junto aos patrões dos caminhoneiros para paralisar e desabastecer o Brasil. Gente da pior espécie.

Percebendo isso e, sobretudo conhecendo as pretensões de Aécio quanto a 2018, Geraldo Alckmin vai aos poucos se afastando do senador, do golpe e do impeachment, ao mesmo tempo que ensaia uma aproximação com o PSB que poderá lhe dar a legenda para concorrer.

Para ele o impeachment ou o golpe não são negócio, uma vez que o cenário ficaria muito conturbado devido à possível convulsão social que se seguiria. É melhor que Dilma continue até o fim, de preferência sangrando, como quer Aloízio Nunes.

Porém, ao fim de tantos anos como governador de São Paulo, Alckmin viu acumularem-se os problemas sem que esboçasse qualquer iniciativa de resolvê-los. Agora tanta coisa está estourando, como a crise da água, truculência da PM, Metrô colapsando, que torna-se inevitável adotar medidas muito impopulares. Além disso, o fechamento de escolas certamente vai reduzir sua popularidade.

O senador José Serra é outro que desembarca do golpismo de Aécio pelos mesmos motivos de Alckmin. Dizem que conversa reservadamente com o PMDB que pode lhe ceder a legenda em 2018, caso Michel Temer, ele próprio não queira concorrer. Uma possibilidade estratégica seria uma chapa Serra-Temer.

Não nos esqueçamos que Serra tem na Folha de São Paulo um importante aliado midiático que de vez em quando detona Aécio como no caso do aeroporto de Cláudio e como agora no caso das viagens de celebridades em aviões oficiais.

Marina Silva também deverá tentar mais uma vez. Para isso é fundamental que seu partido, a Rede, continue a cooptar importantes nomes na política para seu crescimento.

O senador Randolfe Rodrigues (ex-PSOL) e o deputado Alessandro Molon (ex-PT) serão importantes aliados de Marina em suas bases, deverão conter um pouco a postulante em seus exageros de contradições na oratória, além de posicioná-la mais à esquerda no espectro político, já que a direita estará dividida entre Aécio, Alckmin, Serra, possivelmente Bolsonaro e os nanicos de sempre.

A novidade deverá ser mesmo Bolsonaro. Uma pessoa que renega a Democracia e exalta a ditadura deverá concorrer democraticamente à presidência. Mais incoerência, impossível. Mas ele tem uma legião de fãs e deverá fazer algum sucesso.

Mas se a direita estará superdividida, resta saber quem será o candidato do PT que dividirá a preferência da esquerda.

Lula deu entrevista ao SBT onde deixou claro que se preciso for, entrará na disputa. Acho que preciso será e ele demonstrou que está preparadíssimo e com muita disposição para percorrer novamente o país como sempre fez.

A alternativa que o PT esperava seria o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, mas, faltando menos de um ano para as eleições municipais, seu índice de rejeição é muito grande, embora possa ser revertido. Necessitaria talvez de mais dois anos à frente do executivo municipal para tentar reverter o quadro e se projetar pelo país. Tarefa muito difícil.

E Ciro Gomes? Depois que foi para o PDT, Ciro não tem escondido seu desejo de concorrer, porém acho que com Lula na disputa, bom pra ele seria compor a chapa como vice.

A mídia já percebeu que não adianta mais bater em Dilma. Podem ver que a perseguição arrefeceu.

Agora é contra Lula, ainda mais depois da entrevista.

Tentam atacá-lo em todas as frentes.

Lula afirmou que não tem medo de ser preso.

Pode ser que não seja mesmo, mas a estratégia da mídia agora é tentar mostrar que sua família é uma quadrilha.

Assim, todo aquele ódio que a imprensa disseminou durante anos, principalmente após as jornadas de junho de 2013, pela presidente Dilma, vai agora sendo dirigido a Lula.

Durante os próximos 1059 dias que restam até as eleições de 2018 veremos Lula, seus filhos, as noras, a esposa, o cachorro, o papagaio nas páginas dos jornais, não tenham dúvidas. 

A menos que eles se cansem de publicar direitos de respostas todos os dias.




segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Haddad e a lógica dos privilégios

Por Ainá Cruz




O Datafolha acaba de divulgar uma pesquisa de opinião que dá conta de que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad tem rejeição de 49% dos paulistanos. Na contrapartida, apenas 15% avaliam sua administração como ótima ou boa.

Aina Cruz, que não vive em São Paulo, após uma de suas visitas, acabou por registrar suas impressões. 

Compara ainda as iniciativas do prefeito com as melhores práticas urbanas que acontecem nos ditos países top e que todos quando viajam ao exterior, admiram. Fora do Brasil é legal, mas no Brasil não tá com nada, talvez pensem.

Ainda estou preparando meu próprio texto sobre a administração Haddad, mas gostei muito deste pois é muito interessante.

Vamos a ele.


Esses dias, nessas minhas idas à cidade de São Paulo, conversando sobre a vida com M., uma grande amiga, ela me contou do quanto a coisa estava difícil por lá e do quanto ela estava apavorada com a possibilidade do racionamento de água. Minha amiga estava, na verdade, em pânico com a possibilidade de ter de conviver com os dejetos de outrem no trabalho e em casa, já que divide o apartamento com mais duas pessoas. Eu apenas escutava e achava compreensível aquele mal-estar.

Então, não sei explicar como e nem por que, mas nossa conversa foi assumindo acepções políticas e encontrei minha amiga totalmente inconformada com o fato de nossa amada cidade cinza rejeitar e desaprovar a administração do prefeito Haddad e, em contrapartida, desejar a reeleição do atual governador do estado. Ela discorria continuamente sobre as ciclovias, o corredor de ônibus e comparava essas iniciativas louváveis aos feitos do atual governador. Por fim, já completamente desesperada, ela olhou para mim com seus olhos nipônicos e expressivos e disse: "por que essas pessoas querem isso, Ni!?"

Como a nossa profissão é teorizar sempre muito sobre tudo aquilo que não compreendemos, assim nasceu a teoria das exclusividades, que, estou certa, é o que justifica a incansável perseguição da elite paulistana ao atual e, na minha opinião, admirável prefeito da cidade.

Ora, em São Paulo sempre foi assim: quem podia pagar, se divertia, chegava no horário, e com folga, aos seus compromissos, frequentava os lugares públicos protegido e blindado dentro de seu automóvel e, não disputava o espaço com a "ralé". Higienópolis era um bairro pertinho do centro, mas protegido por fronteiras invisíveis bem mais poderosas do que qualquer construção física. Essa gente que não tem dinheiro ficava lá no lugar dela, sem nem se aproximar dos bairros nobres. E dessa forma, tudo era muito bom. Sampa era uma Bélgica brasileira, afinal, nem se cruzava com aquela gente feia e desgrenhada que não é igual "a gente".

Mas aí, um belo dia, surgiu um "esquerda-caviar" que, apesar de ter crescido em meio à elite, achou que a cidade devia ser de todos e não apenas de uns poucos. Foi aí que toda a discórdia começou.

Ele teve umas ideias estapafúrdias de implantar em plena São Paulo todas aquelas coisas bonitas que vemos na Europa e achamos um banho de civilidade. Começou a dificultar as pessoas a circularem em suas Pajeros, para privilegiar o transporte público. Em seguida, esse senhor, teve a audácia de diminuir as faixas de estacionamento de carros, como a zona azul, para transformá-las - veja só - em ciclovias. Pintadas, ainda por cima, de vermelho. Mas de onde esse "cara" estava tirando tamanha loucura?

Pois é, infelizmente, é assim que nossa elite pensa. E o que é mais engraçado é que são justamente essas pessoas que vivem a enaltecer países europeus e os Estados Unidos por suas iniciativas de privilegiar sempre o público em detrimento ao privado. Daí, realmente, tenho que concordar com o surto aterrorizado e incompreendido de minha amiga. Por que essas pessoas acham todas essas iniciativas são tão lindas lá fora e as rejeitam tão veementemente quando são implantadas aqui dentro?

Porque a nossa elite, infelizmente, vive a lógica atrasada e pequena da manutenção das exclusividades e dos privilégios. Ficam extremamente chateados com o fato de demorarem no trânsito e acreditam que quem é pobre e não tem um carro, tem mais é que perder duas horas mesmo no trânsito dentro do ônibus. "Ah, eles já estão acostumados com isso! Moram lá longe! Deixa eles...!". Defendem que a prefeitura deveria criar mais vias de acesso rápido para carros, como as marginais, por exemplo, e não desperdiçar o dinheiro público investindo num tipo de transporte que contemple todos os cidadãos da cidade. E acham essa "coisa" de sustentabilidade uma grande pieguice. Afinal, não estamos em Oslo, né, pessoal?

Para eles é muito penoso saber que agora também precisarão se programar para sair com antecedência de casa. E, o que mais lhes incomoda, é pensar que "Marias e Joãos" vão demorar, talvez, menos tempo para atravessarem a cidade, sentados, também, confortavelmente em um meio de transporte público. Apesar de eles terem dinheiro suficiente para pagar estacionamentos e taxis, eles queriam continuar parando na rua, porque a cidade sempre foi deles. Vagam agora, inconformados, com o fato de outras pessoas se refestelarem assim, do nada, ocupando o seu espaço. E ficam profundamente tristes em se deparar com essa gente comum em seus bairros, porque, afinal, ali não é o lugar deles.

A questão é que, fora da lógica da exclusividade está a maioria da população da cidade e, sendo assim, o prefeito está coberto de razão em destinar o seu governo para aqueles que, de fato, representam São Paulo.

É impressionante como o Brasil ainda mantém, de forma tão arraigada, suas origens coloniais, aristocráticas e coronelistas. Porém, é tão bom quando aparece alguém com coragem de enfrentar e acabar com essa ditadura oligárquica.

São Paulo está tão mais bonita com seus ciclistas, skatistas e afins pelas ruas. Com as pessoas indo e vindo livremente e ocupando o espaço público como se fosse suas casas, porque de fato, ele é!

Haddad representa uma das minhas vontades de voltar a viver em SP um dia. Esse prefeito porreta é a prova de que existe sim muito amor em SP.


domingo, 1 de novembro de 2015

A salvação financeira de Veja pode estar no fascismo que ela prega

Por Fernando Castilho


O fascismo é uma doença peculiar. Ele vai sendo incutido aos poucos nas pessoas comuns, aquelas que postam fotos de cãezinhos fofos e frases de Madre Tereza.

Elas não percebem, mas logo estão exigindo a prisão de gente que não tem acusação formada, ou sobre quem não há provas de ilícitos. Passam a exigir linchamentos sem saber nem direito o por quê. Começam até a criminalizar o que não é crime.

Na Alemanha, durante a ascensão de Hitler, as pessoas comuns, donas de casa, idosos, adolescentes, todos desgostosos com uma crise econômica a lhes roer a esperança de um presente e futuro bons, e insuflados pela imprensa a procurar um inimigo a quem atribuir a culpa pelo fracasso do governo, não demoraram a escolher os judeus, comunistas, homossexuais, ciganos, mestiços e deficientes.

Todas essas ''minorias'' foram delatadas ao fuhrer apenas por existirem, sem direito de defesa.

Esse é o modus operandi do fascismo. Encontrar um inimigo, prendê-lo e eliminá-lo.

Nossa mídia, a la Goebbels, faz propaganda de que Lula é o mal em pessoa, o inimigo público número 1 (a número 2 é Dilma).

Não nos esqueçamos que, quando Lula foi eleito pela primeira vez, a mídia sugestionou à classe média que um analfabeto nordestino e operário não teria condições de governar o país. Nem falava inglês.

O Brasil vinha de um Fernando Henrique intelectual, mas que havia quebrado o país duas vezes, frequentado várias vezes o FMI com o pires na mão, vendido a Vale do Rio Doce por uma pechincha e comprado sua reeleição. Ele fala inglês.

Antes dele, Collor que foi impedido e substituído por Itamar Franco, o homem da volta do Fusca. Sobre Collor é até melhor ficar quieto pois se formos arrolar todos os seus ilícitos, vamos encher a página. Ele também fala inglês.

Então, cansamos de ouvir coisas assim: ''como vou explicar para meu filho que ele deve estudar para dar certo na vida se o presidente não estudou?''

Lula não era pra dar certo.

Mas deu e fez sua sucessora.

Mas se Dilma se elegeu e também se reelegeu, paira agora um grande medo entre a classe média e a elite do país. 2018.

Então, se não dá para impedir a volta de Lula pelo caminho democrático das eleições, já que a oposição não tem nome que possa lhe bater, haja vista a pesquisa Ibope que lhe atribui 23% da preferência contra 15% de Aécio Neves, que seja na truculência.

Na truculência significa pelo caminho do fascismo.

É nisso que a grande mídia vem trabalhando nos últimos meses.

Pessoas simples, preocupadas em tocar suas vidas, são instadas a exigir a prisão de Lula sem o menor motivo. Ele não é acusado de nada e não há provas de ilícito contra ele. Além disso, há uma tentativa de tornar ilícito tudo que o homem faz legalmente.

Como se não bastasse, até seu filho sofreu abuso da Polícia Federal, sendo vítima de busca e apreensão em seu apartamento às 23 horas (o que é proibido por lei), sem que a juíza que acompanha o caso tivesse conhecimento e sem que houvesse qualquer acusação contra ele. E justamente no dia do aniversário do pai.

As revistas semanais de ''informação'' desta semana, no melhor estilo Goebbels se encarregaram de, através de ilações, mais uma vez tentar desconstruir o mito.

A Veja publicou uma foto de capa com Lula vestido de presidiário com uma manchete idiota, sem pé nem cabeça. Se isso não é fascismo, como se pode então classificar? E a revista vai ficar uma semana exposta nas bancas a exigir que aqueles que só veem as capas passem a odiá-lo.

O STF tem a obrigação de mandar apreender a Veja, uma vez que ela mentiu ao acusar um inocente. Isso não é liberdade de expressão, convenhamos.

Mas não o fará. Infelizmente os ministros do STF têm, todos, muito medo da mídia. Medo de serem acusados de petistas.

O ministro Teori Zavascki sofreu duras críticas da mídia por ter fatiado a Lava Jato, desgostando o juiz Sérgio Moro.

O fascismo, após ter penetrado na sociedade e ser encampado pela direita, agora atinge até alguns petistas.

Gente que exige que o presidente da Câmara seja imediatamente preso.

Sim, ele é culpado de corrupção. Há provas abundantes. Mas, se exigimos que Moro e o STF sejam corretos e sigam a Constituição, temos que respeitar que ele tem o direito à ampla defesa, assim como os que já foram presos por Moro e não tiveram.

Se repugnamos o fascismo, não podemos usá-lo por vingança contra quem não gostamos.

Para finalizar, um regime fascista pode ser bom para a editora Abril, assim como a ditadura foi para a Rede Globo.

Sabe-se que a editora está mal das pernas, fechou várias revistas e demitiu muitos jornalistas. A Veja, seu carro-chefe, sobrevive amparada pelos coxinhas que se dispõem a comprar uma revista que tem mais da metade das páginas com publicidade.

De qualquer forma, ela já carimbou na capa sua negação à democracia.

Para ela, nada mal um regime fascista agora, não?