sábado, 30 de abril de 2016

Um divã no Senado, por favor.

Por Fernando Castilho





Fica claríssimo que Janaína é uma militante apaixonada e que nada vai impedi-la de derrubar Dilma. Ainda que a única acusação contra a presidenta fosse passear com seu neto pelo Alvorada, ela toparia a empreitada, com certeza. Afinal, 45 mil reais é uma boa grana.

Depois de assistir à fala da advogada e professora Janaína Paschoal no Senado, fiquei por longo tempo meditando e tentando analisar a personalidade complexa dessa mulher.

Não sou psicólogo nem psiquiatra, motivo pelo qual não há aqui nenhuma tentativa de diagnóstico, deixo claro.

Janaína já tinha dado mostras de descontrole emocional quando de sua fala em frente à Faculdade de Direito da USP em 5 de abril. Como o fato ocorreu logo após a matéria da IstoÉ que vendia a imagem de uma Dilma tresloucada, causando indignação geral, muita gente aliviou com Janaína preferindo caracterizá-la ''apenas'' como fascista, mas nunca como louca. Afinal, há uma ideia injusta e machista de que as mulheres às vezes têm ataques de nervos e perdem o controle.

Janaína no Senado, começa falando dos motivos pelos quais ela tomou a decisão de lutar contra Dilma, Lula e o PT. Isso mesmo, ela está envolvida em uma batalha pessoal.

Tudo teria começado ainda no início do primeiro mandato de Dilma. A presidenta havia revelado em entrevista que seu maior sonho quando criança era ser bailarina mas sentia uma frustração por não ter conseguido realizá-lo.

Janaína então afirma que chorou durante essa entrevista com pena de Dilma. Chegou a escrever-lhe uma carta, que nunca chegou à presidenta por falta de portador.

Com o decorrer do tempo e com um governo que não lhe agradava, Janaína começou a discordar das medidas implantadas por Dilma.

Era então chegada a hora de pesquisar se havia alguma corrupção no governo.

E ela teria ''descoberto'' que Dilma enviava secretamente dinheiro à Cuba e à Venezuela.

Janaína não chega a apresentar nenhuma prova do que afirmou, mas percebe-se claramente que ela sofre (não é diagnóstico, gente) da mesma neurose das pessoas vestidas de verde-amarelo dos protestos.

Janaína disse que na Câmara tomou um chá de cadeira de Cunha, juntamente com o pessoal do MBL, Vem pra Rua e Revoltados online. Percebe-se então por quem ela vem sendo manipulada.

À certa altura ela muda de tom e revela todo o seu ódio para com Dilma. Ela assusta.

Sente-se traída pela presidenta e vai lutar com todas as suas forças para derrubá-la. Afinal, como Dilma ousou trair sua confiança, justamente quem chorou por ela. É evidente que seu ego é muito forte.

Fica então claríssimo que Janaína é uma militante apaixonada e que nada vai impedi-la de derrubar Dilma. Ainda que a única acusação contra a presidenta fosse passear com seu neto pelo Alvorada, ela toparia a empreitada, com certeza.

A advogada revelou que recebeu 45 mil reais (45 é o número do PSDB) para elaborar seu parecer. Neste momento cabe uma reflexão sobre ética profissional.

Os coxinhas dizem não ver nada anormal no fato, pois ela trabalhou e mereceu receber.

Mas não é tão simples assim. Pelo contrário, é muito grave.

Janaína, como todo advogado que se preze, pode ser contratada para dar seu parecer sobre se as pedaladas fiscais podem ou não se configurar em crime de responsabilidade.
Caso chegasse ao crime, poderia seguir em frente e elaborar o parecer.

Não foi o caso. Janaína foi contratada apenas para elaborar um parecer que afirmasse que as pedaladas são crime.

Creio ser falta de ética profissional.

Fora o fato de que o PSDB tem o relator, Anastasia no Senado. Tudo em família.

Ao final de sua explanação, a fala mais patética. Como uma deputada ao declarar seu voto pelo ''sim'', naquele fatídico domingo, ela invocou as criancinhas do Brasil e chorou.

Janaína ainda viria a sofrer um ''golpe'' do senador Randolfe Rodrigues.

Randolfe lhe fez algumas perguntas sobre se determinadas ações configurariam crime de responsabilidade. Ela, após ouvir, respondeu que não havia dúvidas. Seriam mesmo crime de responsabilidade. Randolfe então, placidamente, lhe revelou que estava falando do vice Michel Temer que também assinou decretos na ausência de Dilma.

Mais tarde Janaína viria a afirmar que Temer teria agido à mando de Dilma e que ele não teria culpa. Muito tosco este argumento, não?

Mas vamos falar brevemente sobre Miguel Reale Jr.

Este falou por meia hora e ficou estranho ver que a todo momento assessores do PSDB lhe ajudavam com o texto. Ficou claríssimo que ele não sabia do que se tratava!

Ao final, ouviu sem esboçar reação, do senador Lindbergh, que cometera vários erros no parecer. A expressão do jurista era de uma pessoa distante.

Senadores teriam comentado que ele está senil. Será?

O tucano filiado Reale Jr, segundo Janaína, não cobrou do PSDB pelo parecer.

Por fim, Hélio Bicudo não compareceu. Motivo de saúde?

Sabe-se que Bicudo move-se por rancor contra Lula, conforme afirmou um de seus filhos.

Mas não se descarta também senilidade.

Então, será que o golpe se escora em três figuras que necessitam de ajuda?

Ou será que, como alguns defendem, Janaína se faz passar por louca? Mas qual seria a utilidade disso? Escapa-me a estratégia.

De qualquer forma, a meu ver, pela exposição de Janaína no Senado, caberia uma intervenção do STF por desvio de motivos, uma vez que ao invés de comprovar que as pedaladas fiscais realmente são crime de responsabilidade, ela demonstrou que o que a move é só ódio e vingança.

Vingança por ter sido ''traída'' por Dilma.

Que coisa!





domingo, 24 de abril de 2016

Afinal, assistimos ao fim da corrupção no Brasil?

Por Fernando Castilho





Aquele espetáculo horroroso em que deputados que enfrentam processos na Justiça votaram a favor do impeachment de Dilma não fez com que a maioria das pessoas que queriam a deposição da presidenta mudassem de opinião, o que convenhamos, seria o caminho mais lógico e ético a seguir.

Quando começou a corrupção no Brasil? Agora?

Não, há 516 anos atrás, navegantes aventureiros portugueses aportaram nestas terras e encontraram índios, seres humanos em seu estado mais puro de consciência. Com espelhinhos ficou fácil corrompê-los e fazê-los crer que estavam diante de seres mais desenvolvidos.

Alguns dizem que a corrupção no Brasil deixou de existir durante o regime militar simplesmente porque nenhuma notícia aparecia nos jornais. Mas é justamente por causa da censura que as notícias sobre corrupção, que talvez tenha sido a maior da História, não apareciam nos jornais.

Às vezes acontecia um furo na rígida censura imposta à mídia. Por exemplo, quando um viaduto construído no Rio de Janeiro, obra superfaturada, simpesmente ruiu. A imprensa não noticiou mas a dupla Aldir Blanc e João Bosco tratou de denunciar e eternizar na musica O bêbado e a equilibrista.

Momento semelhante o Brasil viveu no período do governo Fernando Henrique Cardoso, quando o procurador geral da República, Geraldo Brindeiro simplesmente engavetava toda e qualquer denúncia contra o governo FHC.

Candidatos à presidência como Marina Silva se comprometeram a acabar com a corrupção. Seria por decreto? A partir de hoje ninguém mais será corrupto no Brasil!
Para quem acredita, Moisés voltou com uma tábua contendo dez mandamentos que ninguém nunca seguiu.

Os governos Lula e Dilma foram os mais empenhados em combater a corrupção, liberando Ministério Público, Polícia Federal e Procuradoria Geral da União para que investigassem todo e qualquer indício de crime, não podemos negar.

E no resto do mundo a corrupção acontece nos mesmos níveis do Brasil?

Não há dados confiáveis. Há países que minoraram o problema, mas a maioria, e isso é muito importante, mascara os índices exatamente como fez FHC.

Mas a corrupção no Brasil é sistêmica e não adianta querer combatê-la puntualmente.

Assisti a uma palestra em que o professor citava um exemplo.

Um pai e um filho estavam na fila de um brinquedo num parque de diversões.

Se o menino tivesse menos de oito anos, entraria sem pagar.

Então o funcionário perguntou ao pai a idade do menino. Sete!

O menino, corretamente disse ao pai: já tenho oito, pai.

O pai então deu um tapa no filho e disse: quando eu digo que você ainda tem sete anos, é porque tem!

Começa com os pais e passa aos filhos.

Dito isto, já posso afirmar que as pessoas que saíram às ruas pelo impeachment de Dilma Rousseff são falsas e hipócritas. Nunca se posicionaram realmente contra a corrupção.

Isto é facilmente demonstrado após a votação da Câmara que se posiciomou majoritariamente pelo impeachment.

Aquele espetáculo horroroso em que deputados que enfrentam processos na Justiça votaram a favor do impeachment de Dilma não fez com que a maioria das pessoas que queriam a deposição da presidenta mudassem de opinião, o que convenhamos, seria o caminho mais lógico e ético a seguir.

O fato de Eduardo Cunha, o presidente, bandido comprovado, da Câmara ter conduzido o processo tampouco impressionou essas pessoas.

Além disso, o vice-presidente, Michel Temer, que já se posiciona como mandatário da Nação, descumpre todas as regras mínimas da Ética, o que já revela muito do que pode vir pela frente em seu eventual governo.

Por último, o ex-presidente do STF, Ayres Brito afirmou que o que está acontecendo é uma pausa na Democracia para uma arrumação.


Ao ouvir isso de alguém que chegou lá, chegou ao topo de uma carreira e se aposentou, mas mesmo assim depõe contra a Democracia, percebemos que a corrupção, na verdade, está mais enraizada do que imaginamos. 

sábado, 23 de abril de 2016

A GRANDE DÚVIDA CONSTITUCIONAL DE QUE O SUPREMO FUGIRÁ

Por Wanderley Guilherme dos Santos, em seu blog



Qualquer decisão majoritária seria constitucional. Esta é a mácula do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff: o rito criou o crime a ser punido. Vale? Não devia, pois a verdade de juízos de existência não é matéria plebiscitária. 

Avalio como inoportuna, inviável, e ilegal, exceto se por decisão do Superior Tribunal Eleitoral, a sugestão à esquerda de que reivindique “eleições, já”. Inoportuna porque lançada em meio ao processo decisório, primeiro, do Senado da República, e depois, se for o caso, do Supremo Tribunal Federal; inviável porque a Câmara, os partidos que votaram de forma truculenta a favor do impedimento de Dilma Rousseff, não irão introduzir tal mudança na Constituição; e ilegal porque se trata de mudança na regra do jogo ao fim do segundo tempo. Perder a bandeira da legalidade é presentear os golpistas com o argumento de que não dispõem e buscam desesperadamente forjar: o de que a presidente Dilma comete crime de responsabilidade, atentando contra a letra da Carta Magna. E sem ele não há justa causa para a violência impeditiva.

Tenho escassa esperança de que o Senado, julgando o mérito do pedido de impedimento, aceite o óbvio: por nenhuma evidência atual ou histórica, e até biográfica, a presidente Dilma Rousseff jamais violou ou tentou violar as instituições representativas democráticas. Nada até agora pôs em dúvida esse fato, cuja tonelagem de verdade é brutal. Por declarações de mais de um dos integrantes da partidariamente insuspeita força-tarefa da Lava-Jato, jamais houve tentativas de interferência do Executivo no andamento da investigação. Delações interesseiras, assinadas por tipos que acreditam na clemência do algoz quanto mais fabulam historietas para agradá-lo, transformam conversas cotidianas em conspiratas clandestinas em calabouços do Planalto. Mas a denúncia de conveniência será tratada como pepita pelos impolutos senadores, especialmente porque a acusação de deslize administrativo padece de precária virtude, assentada em ilegalidade não comprovada e anã.

Tampouco acredito no discernimento do Supremo. Em matéria de extenso conflito social, só os ministros autoritários costumam içar bandeiras. Os liberais, como de hábito, se escafedem. Dirão todos, ou a maioria esmagadora deles que o rito foi respeitado e não lhes cabe apreciar o mérito da decisão congressual. O dedo do demônio golpista está precisamente neste detalhe. Pode ser difícil encontrar fissura nos trâmites adotados pelo Presidente da Câmara dos Deputados. E não tenho segurança para julgar se é ilegal um réu de processo no Supremo presidir à votação de um pedido de impedimento da Presidente da República, sendo, ademais de réu ele próprio, declarado inimigo político dela. Mas a lisura do rito tem sido reivindicada, até com obsequiosa cautela, não obstante os espasmos alucinados que a TV registrou.

O atentado ao contrato social básico é outro, de cujo exame o Supremo fugirá como lebre. Cabe a qualquer maioria interpretar como lhe convier a forma de aplicar preceitos constitucionais? O rito pode criar o objeto a que se aplica? Se dois terços da Câmara dos Deputados decidirem que as contas do atual presidente da Casa não são contas e que a Suiça não existe, vale a anistia com que pretendem presenteá-lo? Se valer, para quê serve um Supremo Tribunal? Qualquer decisão majoritária seria constitucional. Esta é a mácula do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff: o rito criou o crime a ser punido. Vale? Não devia, pois a verdade de juízos de existência não é matéria plebiscitária. É matéria jurídica, de lógica e da fé contratual que funda as sociedades. Mas os eminentes ministros vão fingir que ela não existe. A seriedade das instituições republicanas se dilui no despudor de um Legislativo que convive com a propaganda da tortura e na prolixidade capciosa dos tribunais de justiça. A república se esfarela e o amanhã promete ser violento.




terça-feira, 19 de abril de 2016

O timing perfeito do golpe

Por Fernando Castilho





Imagino que para recuperar o controle do país, estabeleceu-se um consórcio que vem atuando como uma máquina muito bem azeitada, com todas as peças bem encaixadas em seus lugares, funcionando num timing até agora perfeito.


Eu imagino se pudessem vazar videoconferências realizadas pelos irmãos Marinho, Otavinho Frias, Fernão Mesquita, Giancarlo Civita, Gilmar Mendes, Sérgio Moro, Aécio Neves, Eduardo Cunha, Michel Temer, Paulo Skaf, Rodrigo Janot et caterva.

Para que o consórcio golpista funcione é necessário que o grupo se reúna regularmente para combinar a estratégia para o golpe em Dilma e o timing para sua aplicação.

Há mais ou menos 190 dias as denúncias contra Eduardo Cunha começaram a surgir.

Foi necessário que as provas de crimes contra ele aparecessem. Afinal ele teria que se sentir acuado para poder agir colocando em votação o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

O procurador geral da República, Rodrigo Janot não agiria e o STF manteria Cunha com uma espada permanentemente sobre sua cabeça. Se pisasse na bola, seria preso. O risco de que ele se insurgisse para fazer uma delação premiada não preocupou o consórcio, afinal Cunha sabia com quem estava lidando. Ele não teria sua pena reduzida e ainda perderia sua grana. Valia a pena arriscar.

Enquanto isso, Moro, juntamente com a Polícia Federal e Ministério Público, trataria de conseguir alguma delação premiada, mínima que fosse para justificar o impeachment.

As prisões de medalhões das empreiteiras durante meses serviriam a tentar extorqui-los para entregar Dilma ou Lula.

Moro tentou como pode, mas não conseguiu. Só obteve delações contra o ex-tesoureiro do PT, Vaccari e alguns efeitos colaterais imprevistos e indesejáveis, como a citação do nome de Aécio. Mas não veio ao caso.

Timing perfeito.

Enquanto isso, a vida do filho de Lula seria devassada e uma busca e apreensão seria feita em sua empresa e apartamento sem surtir resultado.

A posse de um apartamento tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia, seriam atribuídas a Lula, mesmo que ele não tivesse nenhum documento de propriedade e suas palestras pelo mundo afora seriam consideradas crime.

Tudo isso amplamente divulgado durante meses pela grande mídia para distrair a opinião pública enquanto Cunha tratava o mais rápido possível de preparar o golpe contra Dilma.
Todos fomos tolamente distraídos.

Timing perfeito.

Mas Moro, no afã de agradar a seus chefes e mostrar serviço, cometeu o grave erro de conduzir Lula coercitivamente de maneira irregular para depor no aeroporto de Congonhas e de divulgar os grampos de conversas entre o ex-presidente e Dilma. Tomou um pito público de Otavinho Frias através de editorial na Folha.

Após isso, Lula não se fez de intimidado e passou a fazer discursos e a mobilizar os movimentos para a resistência. O consórcio tomou um susto pela consequência do erro de Moro. Estaria o plano em risco e seu timing quebrado?

Então o ministro Teori Zavascki, que não se sabe se faz parte do consórcio golpista, exigiu que a investigação contra Lula fosse tirada das mãos de Moro e fosse entregue ao STF, onde jaz até agora.

Timing perfeito.

Dilma, que até parece que contribui com o timing do golpe, pois demorou demais a substituir o ministro Cardozo no ministério da Justiça, resolveu muito tardiamente convidar Lula a ser ministro chefe da Casa Civil.

Não estava nos planos do consórcio, mas Gilmar Mendes rapidamente se apresentou e impediu a posse. Esta deverá acontecer na próxima quarta-feira (27), já com Dilma impedida pela Câmara.

Vejam só como o timing é mesmo perfeito.

Mas antes do impedimento, Temer tratou de vazar uma gravação em que já assumia a postura de presidente da República. Ele sabia que a mídia não o chamaria de traidor, pelo contrário, o pouparia e divulgaria seus planos para recuperar o governo. Além disso, com a gravação ele não precisou comunicar pessoalmente à presidenta seu golpe, covarde que é.

O ministro Marco Aurélio Mello compareceu ao programa Roda Viva onde, em entrevista, questionou falhas de Moro, não sem antes elogiá-lo. Atuou como uma espécie de limpa-barra do STF. Este não impediria Cunha de levar adiante seu espetáculo deprimente no domingo.

Novas videoconferências devem estar acontecendo agora a todo momento para combinar os próximos passos.

Cunha já trata de articular na Câmara sua anistia e acaba de chantagear o Senado para que vote já o impeachment sob pena de não votar mais nada do governo, que não reconhece mais.

De qualquer forma ele já foi útil para o projeto e pode ser descartado. Não ficaria nem um pouco admirado se Janot nos próximos dias pedir sua prisão junto ao STF.

Moro sumiu das manchetes. Não conseguiu prender Dilma nem Lula, mas já cumpriu seu papel enquanto juiz de primeira instância. Assim, esquecido pela mídia, soltará aos poucos os empreiteiros e esvaziará a Lava Jato, talvez sem que percebamos. Acho que Cunha e Moro já nem participam mais das reuniões.

As manifestações pela Democracia em todo o país demonstraram aos golpistas que há a possibilidade de reação.

Além disso, muita gente, ao assistir à votação de domingo, ficou indignada por não ouvir menção das tais pedaladas fiscais nos arrazoados dos deputados.

A repercussão na mídia internacional foi extremamente negativa e o país se tornou motivo de chacota.

Muita gente agora começa a perceber que a chapa Temer-Cunha não leva o Brasil a nenhuma situação melhor que a atual. Muito pelo contrário.

Temer já é pressionado a aumentar impostos, entregar o pré-sal às empresas estrangeiras e, a cereja do bolo, criar a CPMF, que Dilma não pode criar.

O processo de impeachment já foi enviado ao Senado onde, se o povo não aumentar a pressão, Dilma certamente sairá impedida e a Democracia novamente golpeada.

Por isso, é imprescindível que as forças democráticas consigam aliados entre aqueles que agora se sentem enganados pelo consórcio e ampliem dia a dia as manifestações até tomar todo o país.

Não há outra saída.


segunda-feira, 18 de abril de 2016

O golpe e o atestado de idoneidade à Dilma

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


O ministro José Eduardo Cardozo foi ingênuo e perdeu seu tempo em tentar explicar aos deputados porque as pedaladas fiscais não são crime. Eles teriam derrubado Dilma mesmo que a acusação fosse passear com o neto pelo Palácio da Alvorada.


367 votos a favor do golpe.

Lula havia dito que eram 300 picaretas com anel de doutor. Isso foi no passado. Hoje são mais de 300 bandidos sem anel, trogloditas e fascistas.

Estarei sendo anti-democrático?

Como considerar a votação que aprovou o golpe como democrática, já que Cunha manobrou como quis para poder conduzir os deputados como queria?

Comprou parlamentares, ameaçou outros, conseguiu jatinhos de empresas para transportar outros mais, votou ele próprio, desrespeitando o regimento da Câmara, etc..

Bem, o golpe agora segue para o Senado onde deverá, por inércia, ser aprovado também.

Muitos blogueiros escreverão tentando dar explicações para o show de horrores que vimos.

Direi algumas coisas.

Primeiramente, embora eu tivesse certeza de que não seria aprovado, o resultado da votação era mesmo, por coerência, o esperado.

Digo agora, porque antes imaginava que o nível dos parlamentares não fosse tão baixo.

Mas eles se superaram no quesito mediocridade, hipocrisia e falta de ética.

Somente dois deputados justificaram seus votos como sendo por crime de responsabilidade. O resto bradou em alto e bom som: por Deus, pela minha família, pela minha mãe...Ou seja, os caras não leram o processo. Salvo engano, pois não sou advogado, pode haver aí indícios de desvio de finalidade na votação, uma vez que o objeto da ação, o crime de responsabilidade quase não foi mencionado.

Então, acho que a Câmara ao não incriminar Dilma, deu-lhe um atestado de idoneidade.

O ministro José Eduardo Cardozo foi ingênuo e perdeu seu tempo em tentar explicar aos deputados porque as pedaladas fiscais não são crime. Eles teriam derrubado Dilma mesmo que a acusação fosse passear com o neto pelo Palácio da Alvorada.


Nós, que durante muito tempo, nas redes sociais tentamos explicar às pessoas sobre as pedaladas, também perdemos nossos tempo. Elas não estão interessadas no combate à corrupção.

Dilma errou também em manter durante tanto tempo Cardozo no ministério da Justiça, onde foi elemento inerte. Já na AGU, ele se mostrou um leão. Estava no cargo errado.

Outro erro, a meu ver foi não colocar em seu governo nomes como o senador Roberto Requião e Ciro Gomes, incansáveis e corajosos defensores da democracia nos últimos meses.

Mas talvez o erro maior foi não ter nomeado Lula há pelo menos seis meses atrás. O tempo que Lula teve para articular junto aos deputados foi muito curto.

Mas se essa legislatura é a pior em muitas décadas de República, é somente reflexo do povo que a elegeu.

É fácil perceber pois as pessoas que saíram às ruas pedindo impeachment e a volta da ditadura não o fizeram, como já denunciei várias vezes neste blog, pelo fim da corrupção, mas somente pela defenestração de Dilma, a prisão de Lula e a extinção do PT.

É isso que o consórcio golpista quer. Sempre foi isto.

É para isso que o juíz Moro direcionou a Lava Jato desde o começo. As delações premiadas que citaram peemedebistas e tucanos, inclusive Aécio Neves, não se prestaram a prendê-los ou ao menos conduzi-los coercitivamente a prestar depoimentos. E nunca se prestarão.

Moro já está há semanas afastado da mídia desde que o STF pediu para si as investigações sobre Lula. Uma vez fora dos notociários, Moro tratará de ir libertando aos poucos os empresários presos e a Lava Jato será extinta, já que, além de não ter conseguido incriminar Dilma e Lula, se continuar terá forçosamente de atingir aqueles que não quer.

O acovardado STF, que tinha que ter invalidado o processo de impeachment, uma vez que as pedaladas fiscais não são crime, esperou para ver o resultado da votação. Não agiu antes e nem agirá agora. A única esperança seria o ministro Marco Aurélio Mello mandar Cunha incluir Temer no impeachment, uma vez que ele também assinou pedaladas. Mas esqueçam. Não há coragem.

Talvez a única coragem do STF agora seja a de prender Cunha, pois este já cumpriu sua finalidade e a opinião pública aceitaria bem o fato. Desta forma, mais uma vaidade aflorará: Renan Calheiros, presidente do Senado, seria o vice de Temer. Assim sendo, deverá lutar para o golpe contra Dilma também naquela casa.

Portanto, se nem o STF que deveria ser o guardião da Constituição, agiu em sua defesa, o que restará de nossa Democracia?

Por onde passa um boi, passa uma boiada.

Se a Constituição foi violentada neste domingo, ela já não vale mais muita coisa. O caminho está aberto para toda sorte de ilegalidades daqui para a frente.

Temer será presidente e Cunha, seu vice.

Sim, traidor e ladrão mandarão nos destinos do país até 2018.

Assim também metade do país quis.

Resta agora à outra metade que acordou de seu sono e saiu às ruas no domingo, não aceitar o resultado dessa votação espúria e manter e até aumentar a pressão para que essa gente seja presa e o Senado mantenha o resultado das urnas de 2014.


sábado, 16 de abril de 2016

Sem chances de golpe, mas todos às ruas!

Por Fernando Castilho


Imagem: Neto Sampaio


Confesso que vivi para ver o deputado Paulo Maluf, aos 84 anos de idade, livre, leve e solto, votar pelo impeachment de Dilma Rousseff. Sambou na cara de todos os brasileiros.



Amanhã acontece a votação do impeachment (nome técnico para golpe) no plenário da Câmara.

As evidências de que os golpistas serão derrotados, são várias.

A grande mídia que vinha noticiando a vitória de Cunha e seus asseclas como favas contadas, recuou e já afoga as lágrimas. Contavam exatamente com os necessários 342 votos mas a ausência da deputada Clarissa Garotinho que anunciou que faltará devido a problemas com sua gravidez e do deputado Waldir Maranhão do PP foram o banho de água fria em seus propósitos.

As manifestações pela Democracia e contra o golpe que acontecem por todo o país e que no domingo atingirão seu ápice com um índice de participação colossal, vem assustando aqueles deputados cuja única preocupação são suas bases eleitorais. Mas é importantíssimo que não nos desmobilizemos. A onda democrática só faz crescer e crescer.

Mas vejam o emblemático caso do deputado Waldir Maranhão. Ele é professor universitário e seus colegas de academia juntamente com seus alunos e ex-alunos lhe cobraram: o que que é isso professor? Virou golpista?

Então ele teve que recuar.

Os jornais sempre omitiram dos leitores o fato de que a oposição precisa ter 342 votos, ou seja, se algum deputado pró golpe faltar, bau bau.

E faltarão vários, justamente porque preferirão não proferir seu voto nominal em alto e bom som, o que, além de definir um lado, mostrarão a seus eleitores estar do lado errado.

Só o bando do Cunha tem presença garantida no domingo, uma vez que sua prioridade agora é a queda de Dilma que poderá lhes dar um fôlego em sua sobrevivência, já que respondem a vários processos ou foram citados na Lava Jato.

Não haverá golpe e a Democracia sairá vitoriosa, mas várias máculas ficaram na recente História do Brasil.

Não há como aceitar, dentro do pensamento racional, mas só dentro do pensamento surreal, um processo de impeachment de uma presidenta sem crimes cometidos, movido por um bandido comprovado que ainda não foi preso por covardia ou conveniência do STF.

Mas confio que já na próxima semana, após o fim da aventura do golpe, Cunha será preso. Tem que ser.

Mais ainda.

Durante os anos de chumbo, Paulo Maluf, seja na prefeitura de São Paulo, seja no governo estadual, transfigurou a cidade de São Paulo que tinha vocação para ser uma Paris dos trópicos. Não foi, e pior, Maluf, sob o beneplácito de seus sempre fieis eleitores, roubou o quanto pode, principalmente através de obras super-faturadas patrocinadas pelas mesmas empreiteiras da Lava Jato, que faziam o planejamento urbano da cidade.

Confesso que vivi para ver o deputado Paulo Maluf, aos 84 anos de idade, livre, leve e solto, votar pelo impeachment de Dilma Rousseff.

Sambou na cara de todos os brasileiros.

Mas não haverá golpe. E isso me basta.

Além de preservada a Democracia, sambar na cara da dupla Temer e Cunha não terá preço.

Bom domingo!


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Como confiar num Supremo acovardado?

Por Fernando Castilho





Neste espetáculo de mídia em que se transformou o Judiciário, em que juizes de primeira instância se transformam em pop stars, ministros estão com medo de serem execrados, esta mídia que, qual um big brother, vigia constantemente as ações do Supremo para ver quem vai por a cabecinha pra fora e ser a Geni da vez.

Senhoras e senhores respeitáveis do Brasil.

Estamos às vésperas da votação em plenário do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

A Advocacia Geral da União entrou com pedido de anulação do processo com base em vícios.

O Supremo Tribunal Federal manteve a votação do domingo (17), porém afastou as considerações ligadas à Lava Jato para a apreciação do plenário.

Há quem comemore, afinal Dilma não poderá ser impedida por fatos ligados à Petrobras, mas sim somente pelas pedaladas fiscais que não são crime, convenhamos.

À parte os exercícios de futurologia (a mídia afirma que seu amado Cunha já tem os votos necessários e Lula diz que já tem as assinaturas necessárias para barrar o golpe), há algumas considerações acerca do comportamento do STF.

Em entrevista ao programa Roda Viva e em outros pronunciamentos, o ministro do STF, Marco Aurélio Mello, se definiu como contrário ao impeachment, se os motivos forem somente as pedaladas fiscais, que ele não considera relevantes.

Afirmou ainda que as instituições estão funcionando normalmente e que o STF não se acovardou como afirmara Lula no grampo de Sérgio Moro.

Sentimos certo alívio ao ouvi-lo falar. Mello certamente seria um bastião na defesa da Constituição.

Chegamos então a esta sexta-feira.

Cunha, apesar de todos os crimes já comprovados, continua já há mais de 190 dias, solto e mandando no país. Ele atualmente ''governa'', ou melhor, desgoverna, cria o caos, transforma o país num pandemônio, numa república de loucos e fascistas e, qual Nero, pretende incendiar o país para ver como é que fica, para depois sair ileso, de fininho, e se livrar ele mesmo da prisão.

Mello falou na entrevista que o STF não age de ofício, é preciso provocá-lo, isto é, alguém precisa processar alguém. Mas Cunha já tem muitas denúncias contra ele e nada ainda foi feito.

O que os ministros do STF pretendem?

Ora, Lula tem razão, o tribunal está acovardado mesmo.

Neste espetáculo de mídia em que se transformou o Judiciário, em que juizes de primeira instância se transformam em pop stars, ministros estão com medo de serem execrados, esta mídia que, qual um big brother, vigia constantemente as ações do Supremo para ver quem vai por a cabecinha pra fora e ser a Geni da vez.

É disso que têm medo.

Até esta sexta-feira estão preferindo que a Câmara vote no domingo. Torcem para que o golpe não passe para que se vejam livres de ter que aplicar a Constituição, essa chateza.
E se o golpe passar, vão ainda aguardar que o Senado o derrube antes de agir.

Mas não tenho mais a certeza de que em algum instante agirão.

Mesmo aqueles em que botava alguma fé, como Lewandowski, Barroso e Teori.

Estamos sem referência, amigos, sem chão, sem norte, sem rumos.

Isso quem nos dava era a Constituição.

Já não mais a temos.


Confiemos apenas na ética de todos nós.

Os magos e o monstro

Por Mauro Santayana, em seu blog 



(JB Online) - Dizem que, certa vez, querendo derrotar um adversário, um grupo de magos e de aspirantes a magos – entre eles havia numerosos aprendizes de feiticeiro – reuniu-se para construir uma criatura monstruosa, que pudesse destroçar, impiedosamente, o inimigo.
- Vamos fazer uma cauda longa e forte, coberta de espinhos - disse um deles.
- E uma boca imensa como um precipício, com duas fileiras de dentes de tubarão, tamanho X-G – disse outro.

- E seis patas, longas como lanças e grossas como porretes, que possam perseguir e acuar qualquer um que esteja se vestindo com as cores deles – afirmou o terceiro.

- Cada uma com 12 garras, afiadas e curvas, como espadas de sarracenos – reforçou mais um.

- Tudo isso unido, por este tronco aqui – sugeriu outro - grosso como o de um rinoceronte.
- Coberto com escamas em lâminas, que cortem como cacos de vidro – propuseram outros, que tinham acabado de chegar ao encontro.

E durante meses os magos assim procederam.

Além de detalhes físicos, inúmeros, foram acrescidos à receita condenáveis sentimentos, que iam sendo reunidos para alimentar, na fase final, o monstro por via intravenosa, já que ele, como um abominável frankenstein canídeo, ressonava, roncando, no pátio do castelo, esperando o dia em que despertaria completamente, como a Bela Adormecida.

Por isso, no caldeirão em que fervia a poção que era injetada, como um soro fétido, no monstro, por mil agulhas espalhadas pelo corpo, se juntaram o ódio mais virulento, as mentiras mais descaradas, o preconceito mais arrogante, a violência mais sádica, a ignorância mais teimosa, a manipulação mais descarada e a mais cínica hipocrisia.
Nesse afã, passaram-se dias, semanas.

Até que, meses depois, em um crepúsculo lento e friorento, os magos se reuniram nas arquibancadas do pátio do castelo, para acordar, finalmente, a estranha criatura.

Para isso, um mago anão, equilibrista, subindo ousadamente sobre o rabo do monstro, percorreu lenta e solenemente o seu tronco, e, escalando sua cabeça, aproximou-se do focinho repugnante e disforme, para soprar, precedido pelo som de trombetas, em suas ventas, com um canudo feito de despachos judiciais, manchetes de jornal e capas de revista, o vapor azulado da existência.

Passaram-se então alguns segundos, de ansiedade e expectativa, em que se poderia ouvir o zumbido de um inseto.

E no instante em que o monstro se levantou, resfolegando como o cão dos infernos, foi como se a terra tivesse, súbita e violentamente, estremecido.

A massa da gigantesca criatura balançou-se, de um lado para o outro, como uma montanha, atirando, sobre uma arquibancada mais alta, o anão-mago que havia lhe soprado a vida.

E quando, abrindo os olhos em chamas, ele escancarou a espantosa bocarra, mostrando a garganta escura e profunda como um poço, emoldurada pelas longas fileiras de dentes, de onde explodiu, como uma bomba, o poderoso trovão de seu rugido, fazendo com que todo mundo saísse correndo, desabaladamente, ainda ouviu-se, desesperado e agudo, um grito lancinante:

- Ih! Ih! Corre, macacada, corre!

A gente se esqueceu de colocar a coleira!

Se tivesse acesso a um pequeno livro de contos morávios da segunda metade do medievo, que comprei em um velho sebo em Praga, que me inspirou o início deste texto, certamente parte da oposição e do próprio PMDB teriam pensado duas vezes antes de agir como os magos e os seus aprendizes, e optar, uns de forma planejada, outros de maneira crescente e intuitiva, por incentivar e cevar, com a velha, surrada, manipulada bandeira do combate à corrupção de sempre, o monstro da antipolítica, e por abandonar o calendário eleitoral normal para embarcar em um jogo suicida de encarniçado perde-perde do qual, como se pode ver também pelas últimas pesquisas, todos, ou quase todos, sairão exangues, feridos e derrotados, e em situação muito pior do que a que estavam antes.

Nos últimos anos, e principalmente nos últimos meses, da Copa do Mundo para cá, muita gente insistiu em empurrar, radical, emotivamente, a população e a opinião pública contra o governo, como se disso dependesse a salvação do país.

E o que se conseguiu foi criar uma grande massa de brasileiros, equivalente hoje a cerca de 20% da população, que nutre o mais profundo desprezo pela política, pelo Congresso, pelos partidos, pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Poder Executivo, e que não tem – e não quer ter - a menor ideia de como funciona um regime democrático ou o presidencialismo de coalizão.

Uma turba que, da defesa da tortura, da ditadura, do assassinato de adversários políticos, ao anseio de uma democracia direta feita na base da porrada e do porrete, exercida pela força, a pressão e a violência, exibe os mais esdrúxulos devaneios e delírios, tendo como únicos pontos de união um anticomunismo tosco e anacrônico, o ódio ao estado, o desprezo pelo Brasil e por suas conquistas e preconceitos de todo tipo e que só aceita – até agora – a liderança de dois personagens desequilibrados pelo ego e pela ambição, que representam, a médio prazo, um imponderável, incalculável, extremado risco para a sobrevivência da democracia e das instituições.

O PT, de sua parte, embora não possa ser incluído no “círculo mágico” a que nos referimos, fez, paradoxalmente, quase todo o possível para o crescimento dessa receita fascista.


Alimentou, com bilhões de reais, uma mídia parcial, seletiva, inimiga, quando, até mesmo usando o sábio pretexto da austeridade, poderia ter evitado fazê-lo, suspendendo, ou limitando à publicidade legal obrigatória, toda a propaganda paga do governo.

Abandonou, sem nenhuma estratégia que pudesse impedi-lo, os espaços aparentemente “neutros” e de maior “audiência” da internet para a direita, e, depois, para a extrema direita, permitindo que, sem nenhuma reação em contrário, eles se tornassem o principal caldo de fermento de uma malta ignorante, violenta, hipócrita, manipulada e burra, parte dela oriunda de um público que as próprias políticas sociais do Partido dos Trabalhadores havia levado a ter acesso, por meio da inclusão digital, a computadores, tablets, celulares e conexões de rede.

Não estruturou um discurso claro, baseado em dados simples, em nada cabalísticos, do PIB, dívida pública, carga tributária, que pudesse desmentir teses estapafúrdias como a de que quebrou o Brasil nos últimos 13 anos, ou de que sucateou as Forças Armadas, quando lançou o maior programa de aparelhamento da área de defesa dos últimos 500 anos.

Alguns de seus dirigentes se entregaram à aceitação de pequenos, perigosos e absolutamente desnecessários “favores” - não ilegais, mas moral e politicamente discutíveis - e outros personagens se entregaram a operações de “consultoria”, prestadas não apenas a empresas brasileiras – coisa totalmente compreensível, no apoio por exemplo, à exportação de serviços e equipamentos nacionais – mas também a companhias multinacionais, algumas delas - não necessariamente por influência do PT, mas em seus governos - beneficiadas, nos últimos anos, por “perdão” de impostos e empréstimos bilionários, lembrando, nessa aproximação, o que ocorria nos governos neoliberais e entreguistas anteriores.

A oposição tem perdido apoio e intenção de votos com o discurso geral de judicialização e criminalização da política, na mesma proporção em que seus membros são acusados de corrupção, quase que exatamente com os mesmos pretextos, jogadas e subterfúgios – principalmente a transformação de doações legais em ilegais e delações premiadas negociadas em troca da liberdade mesmo que provisória de detidos - que antes se utilizavam apenas contra membros do PT e da coalizão governista.


O Congresso também perdeu como um todo, institucionalmente, bastando para isso ver a quantidade de membros do legislativo processados pela justiça - incluídos os presidentes da Câmara e do Senado - ou apenas no âmbito da Operação Lava-Jato, como é o caso, por exemplo, da composição da própria Comissão que aprovou, em primeira votação, por maioria simples, o impedimento da Presidente da República.

A Operação Lava-Jato, insuflada pela oposição no início, e pela mídia conservadora durante todo o tempo, e o esporte nacional de acuar e inviabilizar o governo, aprofundaram o efeito da crise econômica internacional, arrebentando com a governabilidade e com a economia e quebrando milhares de brasileiros, que, até mesmo por isso, estão se afastando também da política tradicional, “seduzidos”, como sempre, por novos e velhos paraquedistas que dizem que não são “políticos”.


Quanto ao PMDB, se nem os magos e seus aprendizes conseguiram se aproximar da criatura que geraram – por hora disposta a ganhar afagos e festas de apenas duas pessoas, o Juiz Sérgio Moro e o Capitão Jair Bolsonaro, que se aproximam, perigosamente de 16% dos votos;

Se a malta fascista que está nas ruas, criada com o leite amargo do ódio e o pão de ló da criminalização e desconstrução da política que a oposição e a imprensa amassaram com o rabo, não aceita sequer a presença do PSDB partidário em suas manifestações, das quais já expulsou Aécio e Alckmin, nem a do Presidente da FIESP – que foi cantar o hino nacional e por pouco não saiu tosquiado, ou melhor, pagando o pato;

Nem a do “líder” dos Revoltados Online, que apesar de travestido de fascista, foi acusado de comunista e de “estar a soldo do senador Aécio Neves” porque tentou fazer um alerta à turba de “homens de bem” e teve que sair sob proteção policial da Avenida Paulista;

De onde o PMDB “recém-dissidente” tirou a ideia, ou melhor – aos gritos de “Fora PT” no Congresso - a ilusão, de que seria tratado de forma diferente por aqueles que se convencionou chamar de “coxinhas”, ou pelo judiciário, ou pela “imprensa”, após ficar mais de uma década apoiando e participando da coalizão governista?

Será que esse partido não sabe que dificilmente o Vice-Presidente Michel Temer deixará de ser a bola da vez em uma longa fila de impeachments?

Bom ou mau, o PT tinha um acordo com o PMDB. A imprensa, o Judiciário, os "mercados" não tem nenhum.

Ainda esta semana, em entrevista ao jornal Valor Econômico, o empresário Francisco Deusmar, dono da rede de farmácias Pague Menos, com 830 lojas no país, disse que, em caso de impeachment, seria melhor que o Vice-Presidente da República não assumisse."Tem que ser como no futebol - afirmou - o time está perdendo? Muda a Comissão Técnica toda.

E o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, lembrou que não dá para saber que tipo de apoio teria um eventual governo Michel Temer.

Se haverá eleições daqui a seis meses, para que quebrar as regras do jogo?

Para que romper a aliança – mesmo que frágil – de uma coalizão já existente, para tentar, sem nenhuma garantia de êxito, se aliar subalternamente (pela pressão) a todo tipo de adversários, que não têm por você a menor simpatia ou respeito?

O que é melhor, atravessar o rio em conjunto com o grupo com que, ao menos aparentemente, se estava enfrentando, até mesmo por imposição do campo adversário, as mesmas vicissitudes e desafios?

Ou substituir regras democráticas previsíveis, periódicas, pelo imponderável “pega pra capar” de uma destrutiva briga de foice no escuro – e ser usado como boi de piranha para tirar as castanhas do fogo para sabe se lá quem chegar ao poder, pisando por cima do seu pescoço?

Os ministros do PMDB que permaneceram no governo recusaram-se a queimar suas naves, como Agathocles nas praias de Cartago.

Ao romper com Dilma, por sua vez, outro lado do PMDB lançou-se à travessia – que promete ser longa e não isenta de desafios - de uma espécie de Rubicão caboclo.

E um terceiro grupo, nacionalista e legalista, tende a manter-se – provavelmente em defesa de suas respectivas biografias – por convicção, contra o impeachment.

Esquecendo-se das conveniências de curto prazo, que nem sempre são boas conselheiras, em Política e na História, por maiores sejam a pressa e as dúvidas eventuais, no lugar de ficar com o senso comum é sempre melhor ficar com o bom senso.

Senão, corre-se o risco de morrer como o escorpião que picou a rã – que lhe dava carona - no meio do rio.


O futuro dirá se foi por estratégia, por “natureza” (como fez o artrópode da fábula) ou estultice. 

quinta-feira, 14 de abril de 2016

O país que precisamos depois de domingo

Por Fernando Castilho






Embora a grande mídia esteja fazendo terrorismo psicológico ao tentar mostrar que o impeachment já ganhou na votação de domingo, há grandes chances de o golpe ser rechaçado. Após esse pesadelo que compromete a Democracia, é hora de pensarmos qual o Brasil que queremos já para a segunda-feira.


Depois de 502 anos de domínio da Casa Grande, experimentamos 12 anos de um governo que, embora não tivesse sido socialista, mas sim de esquerda (sim, de esquerda, embora alguns não concordem) moderada, democrática, com concessões aqui e ali ao capital, conseguiu inegáveis feitos.

Com certeza foram os anos mais exitosos do Brasil. Neles foram criados inúmeros programas sociais que beneficiaram o povo mais pobre e serviram para tirar 36 milhões de pessoas da linha de pobreza e aumentar significativamente a classe C do país.

O segundo governo Dilma começou emparedado por uma oposição e uma mídia que não aceitaram a derrota e obrigaram a presidenta a ceder ao neoliberalismo numa maneira equivocada e mal sucedida de acalmar os ânimos da classe média e conseguir um mínimo de tranquilidade para governar.

A Casa Grande quis retomar o país de qualquer jeito.

Para isso utilizaram-se do pretexto de combater a corrupção que teria tido, segundo eles, origem com a ascensão do PT ao poder.

A classe média (B) acreditou e comprou a luta saindo às ruas e batendo panelas. Se a mídia quisesse vender-lhe o Viaduto do Chá em São Paulo, o Maracanã no Rio ou a pirâmide de Queops no Egito, ela compraria.

O consórcio que se articulou para a derrubada de Dilma agiu como uma máquina muito bem azeitada.

Cunha, o corrupto maior da Nação se encarregaria de abrir o processo de impeachment na Câmara.

O juiz Sérgio Moro ficaria com a incumbência de tentar prender Lula para que este não concorresse em 2018.

A oposição sangraria Dilma até a morte.

A mídia não deixaria de noticiar e até inventar ''fatos'' diariamente contra Dilma e Lula. Choveriam escândalos noticiados por até meia hora todas as noites no Jornal Nacional.

O STF não prenderia Cunha, deixando-o solto para que agisse à vontade e instaurasse o processo de impeachment mesmo não tendo Dilma cometido crime algum.

A FIESP, fiel ao seu golpismo, mesmo as indústrias que a compõem tendo sido beneficiadas largamente pelas desonerações, isenções de IPI sobre produtos elétricos e automóveis, preferiu gastar milhões para derrubar o governo ao mesmo tempo em que promoveria seu presidente, Skaf, candidatíssimo à prefeitura de São Paulo este ano.

E a cereja do bolo: o vice decorativo assumiria enfim um protagonismo imoral ao trair a presidenta.

Enfim, eles conseguiram a aprovação do relatório do impeachment pela comissão da Câmara.

Tudo pode terminar no domingo (17) com a derrota do golpe ou evoluir para a votação no Senado.

A mídia já dá o golpe por concluído, tentando iludir os incautos e desmotivar aqueles que já percebem o risco da afronta à democracia ao comparecimento aos atos anti-golpe do domingo. Não se trata mais de defender o PT ou Dilma, mas sim a Democracia.

Mas sabemos que a batalha não está perdida e muito dependerá de nós mesmos.

Por que queremos que o golpe seja derrotado?

Em primeiríssimo lugar, pela defesa da Democracia e pelo restabelecimento do Estado de Direito, tão caros à Nação, de onde derivam a ética de um país, a confiança nas instituições e a segurança jurídica de todos os cidadãos.

Depois disso, são elencados outros vários motivos.

Se o governo Dilma esteve desorientado até agora, acabando por cometer inúmeros erros, isso se deve muito (não só, pois sabemos que há uma profunda crise econômica mundial) ao boicote que a oposição lhe impôs e à perseguição implacável da mídia. Não é concebível que em quatro anos de governo Dilma demonstre ser uma boa gerente e num segundo mandato caminhe como uma completa neófita. Não é este o caso, certamente. Havemos de lembrar que até junho de 2013 ela tinha uma popularidade de cerca de 60% que despencou de um dia para outro para 30%.

Portanto, é preciso que depois de domingo, Dilma comece, com a ajuda de Lula, a recompor sua base para que possa garantir um mínimo de governabilidade.

Uma vez derrotada a proposta de golpe, cabe à oposição ter um mínimo de dignidade e ética, reconhecendo enfim sua derrota e, se não contribuir para que a crise arrefeça, pelo menos faça uma oposição com propositiva. Duvido.

É preciso que a mídia passe a se ocupar de uma contribuição à recuperação do país, deixando as previsões econômicas catastróficas e mostrando que um futuro melhor pode acontecer. Além disso, pode começar enfim a divulgar as grandes obras que acontecem por todo o país. Duvido.

O STF tem que mandar prender Cunha com urgência. Não se pode mais tolerar um bandido mandando no país. Gostaria que sua prisão acontecesse até a próxima sexta-feira, mas isso é sonho. É sonho.

Deve ainda autorizar Lula a ocupar por justiça a Chefia da Casa Civil, já que nada obsta a isso. Isso pode ser que ocorra.

Para concluir, Janot tem que pedir ao STF abertura de investigação contra Aécio Neves pelas inúmeras vezes em que ele foi citado nas delações premiadas. Hum, será?

Moro deverá mandar soltar aqueles que não oferecem risco à população para que respondam às investigações e aos processos em liberdade. Duvido.

Os países mais ricos e desenvolvidos do mundo tiveram que equacionar e resolver seus problemas de desigualdade social para que pudessem chegar a seu atual estágio. Hoje todo mundo ao fazer turismo se admira de não ver mendigos nas ruas nesses países.

O Brasil, de dimensões continentais, mesmo depois dos governos Lula e Dilma, ainda mantém graves índices de desigualdade.

A maior parte da violência sentida pela classe média vem deste fato.

Essa classe média que é contrária aos programas sociais, não abomina um governo estadual que bate em professores e estudantes, que fecha escolas e rouba merendas das crianças, mas exige a derrubada de uma presidenta honesta por um bandido.

Essa classe média precisa parar de pensar que é classe A. Não fará.

E a classe C que ascendeu justamente nos governos passados precisa lembrar-se do que foram os anos FHC e dar um crédito de confiança à presidenta. Duvido pois agora ela quer mais e já se julga B.

Dessa série de fatores depende a recuperação do país.

Precisaremos de muita união para recuperar o país depois de domingo.

É hora de pensarmos qual Brasil queremos que emerja na segunda-feira.

Um Brasil justo, em que as instituições voltem a funcionar.

Um Brasil ético em que toda e qualquer corrupção seja investigada, julgada e punida a forma da lei.

Um Brasil democrático que faça valer sempre o resultado das urnas, a menos que crimes comprovados sejam cometidos.

Um Brasil plural, onde se possa caminhar pelas ruas com camisas vermelhas ou verde-amarelas.

Um Brasil onde se possa jantar num restaurante sem que se seja molestado por pessoas com outras convicções políticas.

Um Brasil onde o ódio não seja destilado nas redes sociais.

Um Brasil de debates.

Um Brasil propositivo.

Um Brasil legalista.

Um Brasil preocupado com suas população mais carente.

Um Brasil não homofóbico e não racista.

Mas isso é só mais um sonho.

Mas eu não estou sozinho neste sonho. Muita gente pensa assim.

E pode se juntar a nós.

Alguém já disse isso.