quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O suicídio que a grande mídia comete todos os dias

Por Fernando Castilho


Os blogueiros progressistas vêm durante anos denunciando, através de seus textos, a parcialidade com que a mídia trata qualquer assunto que envolva o governo, o partido da presidenta Dilma e a oposição.

Este blogueiro não foge à regra. Já publiquei vários textos sobre a maneira sórdida com que os órgãos de imprensa manipulam o indivíduo comum.

Responsável direta por fatos que ocorreram na História nas últimas décadas, como o suicídio de Getúlio Vargas, e o golpe militar que colocou o país nas trevas durante 21 anos, só para citar dois exemplos dos mais graves, a mídia parece não se importar com o destino do país e de seu povo. E não se importa mesmo.

Seus objetivos são inconfessáveis e prioritários em relação a todo o resto.

Fala-se muito que os órgãos de imprensa estão caminhando para um fim próximo devido ao fenômeno internet. É verdade, mas não é a única.

Pesquisa recente apontou que apenas 13,2% da população sempre acredita no que a mídia publica. Quase o dobro disso, 21,2%, nunca confia no que é dito pelos jornais.

É um dado alarmante e prova definitivamente que o grande motivo pelo qual a mídia se encontra em má situação financeira é sua falta de credibilidade. Afinal, por que alguém compraria ou assinaria um jornal ou revista que falta com a verdade?

Em 2003, no início do primeiro governo Lula, Globo, Folha, Estadão e Abril solicitaram audiência com o presidente. Expuseram a difícil situação em que já se encontravam e pediram ajuda do BNDES. Lula analisou a questão, mas respondeu que o banco não se prestava a socorrer empresas como aconteceu no passado, quando FHC criou o Proer, injetando dinheiro do contribuinte nos bancos privados que se diziam em má situação financeira.

Foi a senha para que a mídia passasse a fazer oposição ferrenha ao governo. Ainda mais depois que, em encontro com FHC, este prometeu que se os tucanos voltassem ao poder, a ajuda estaria garantida.

Nunca me esqueço do divisor de águas da época. A Veja havia feito uma matéria em que criticava o fato do presidente viajar utilizando o avião presidencial da época, o sucatão.

Após uma viagem a China em que Lula fora acompanhado por empresários e governadores interessados em fechar negócios com aquele país, Veja entrevistou o governador Geraldo Alckmin que afirmou que o sucatão voava como um pássaro, até batia asas.

Era mais que urgente que o governo brasileiro aposentasse o sucatão!

Apenas algumas semanas depois, Lula anunciou que o governo compraria uma nova aeronave.

Pois não é que em uma edição que marcaria seu novo estilo dalí para frente, a revista atacou fortemente a decisão do presidente? Foi a partir dalí que apareceu o colunista Diogo Mainardi, contratado especialmente para malhar o presidente em todas as edições futuras.
Como ter credibilidade em uma revista assim?

A maior bandidagem de Veja foi cometida às vésperas das eleições presidenciais quando uma matéria de capa afirmava com todas as letras que Dilma e Lula sabiam do esquema da Petrobras, sem que nenhum dado ou fonte fosse apresentado no conteúdo interno. A tábua de salvação seria Aécio. Mas não deu. E agora, com o depoimento de Alberto Youssef, a Veja acaba de ser pega na mentira.




É certo que uma porcentagem expressiva de leitores continua fiel. São aqueles que foram sendo formados pelas opiniões da revista ao longo dos anos, ou que são claramente de direita. Certamente, todos os que saíram às ruas em 16 de março pedindo o impeachment de Dilma e a volta da ditadura, são leitores de Veja.

Veja tem dois genéricos: Época, da Globo e IstoÉ. As três estão indo para o mesmo caminho, o buraco.

Um leitor de meu blog perguntou uma vez se eu queria a falência da Veja. Claro que não, respondí. Quero que a revista adote uma posição isenta, imparcial, diante dos fatos. Se não for assim, que assuma em editorial que se trata de uma publicação de direita destinada a combater o governo do PT. Só isso.

A Folha de São Paulo é outro exemplo de hipocrisia. Afirma que é plural, isenta, neutra. Porém, é só verificar suas manchetes para se perceber claramente que ela é singular.

O Estadão está há anos à venda, sem que apareça um comprador. Talvez este nunca apareça pois o trabalho de reconstrução da imagem do jornal para atrair mais leitores seria muito custoso, demandaria muito tempo e não valeria a pena.

Entre os grandes, resta a Globo. Após comandar corações e mentes durante tanto tempo, o grupo percebeu, e reconheceu em editorial, que ao se derrubar Dilma Roussef da presidência, sem que haja sequer uma acusação contra ela, estaria aceso o estopim de uma grande convulsão social que levaria o país à uma crise política e econômica sem precedentes. E isto afetaria tremendamente sua já tão delicada situação. Só por isso. Nada de preocupação com o povo.

Os jornais já anunciaram inúmeras vezes a queda da presidenta, a prisão de Lula e os crimes dos petistas. Nada disso ocorreu, a não ser a prisão de Vaccari e de Dirceu (este novamente sem nenhuma prova).

Mas la crème de la crème dos métodos persuasivos com que a mídia ''trabalha'' a mente de seus leitores, tele-espectadores e ouvintes são as manchetes.

Via de regra as manchetes não condizem com os textos ou vídeos. Podem verificar.
Ontem mesmo o Uol publicou um vídeo da CPI da Petrobras no Senado cujo título dizia que o delator Alberto Youssef afirmava que Dilma e Lula tinham conhecimento da corrupção na Petrobras. Ao abrir o vídeo, Youssef dizia simplesmente que ele não sabia de nada. Que talvez outro delator pudesse saber.

Em março deste ano, a agência Reuters publicou uma entrevista com FHC. Nela, a agência publicara que o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, disse ter começado a receber propinas em 1997, ainda sob o governo FHC. Entre o sexto e o sétimo parágrafos, logo após a citação de Barusco, aparecia entre parênteses a observação “Podemos tirar, se achar melhor”. Foi um ato falho da redação que esqueceu de retirar a frase, mas que expôs claramente como a mídia se comporta para poupar os tucanos.

Reuters: reprodução


E ontem ocorreu um fato gravíssimo no noticiário do Uol, do grupo Folha.
O portal publicou às 19:37 a manchete: ''Youssef e Costa confirmam repasse de propina a Aécio e Sérgio Guerra''.

Menos de uma hora mais tarde, às 20:24, a manchete já havia mudado: ''Delatores Youssef e Costa mencionam repasse de propina a tucanos''.

Alguém dirá: ''ah, mas a mudança é pequena. Estão falando de tucanos, o que dá na mesma.''

Não dá. A citação do nome é forte e fiel aos fatos. O termo ''Tucanos'' é muito genérico.

Provavelmente o próprio senador telefonou para a Folha e exigiu a retirada da manchete e talvez até da matéria, mas o portal considerou que não poderia simplesmente sumir com a notícia. Resolveu então omitir o nome de Aécio. Como a maioria das pessoas lê somente as manchetes, o caso estaria resolvido.

Porém os prints das manchetes antes e depois viralizaram na internet, a mesma internet que hoje é algoz da grande imprensa e não perdoa.

A Folha ainda desconhece esse poder.

O que também não se entende é o por quê do governo insistir em pagar publicidade institucional caríssima para uma mídia que insiste em manipular fatos, omitir e mentir. Excesso de republicanismo.

Talvez não seja preciso criar uma lei de meios para a nossa mídia. Do jeito como as coisas vão caminhando, vai bastar que uma feche para que todas as outras também caiam em efeito dominó.

A única dó é com relação aos jornalistas que ficarão desempregados. Mas enfim, se eles se prestam ao papel de publicar somente aquilo que seus patrões exigem, de que eles servem?, afinal?






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