segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Prendam os suspeitos de sempre!

Por Fernando Castilho

Casablanca, de Michael Curtiz
No filme Casablanca, um dos maiores clássicos do cinema, o personagem principal Rick (Humphrey Bogart) ajuda sua amada Ilsa (Ingrid Bergman) a escapar às pressas de Casablanca num avião, com seu marido Victor Lazlo, um dos líderes da resistênciaTcheca, de modo que ele possa continuar sua luta contra os nazistas. Rick abdica assim, de seu amor.

Enquanto o avião decola, chega o Major Strasser, comandante nazista disposto a prender Lazlo, mas Rick atira nele quando ele tenta intervir. Quando a polícia chega, o capitão Reanult salva a vida de Rick ordenando "prender os suspeitos de sempre''.

Zé Dirceu é um dos ''suspeitos de sempre''.
Nesse caso, embora o ex-ministro seja o inimigo público número um, já parece forçação de barra. Dá a impressão de que Dirceu era um polvo com tentáculos a roubar compulsivamente em todas as frentes possíveis ao mesmo tempo.
Delação de Alberto Youssef.

Jânio de Freitas em sua coluna de hoje na Folha, intitulada ''Youssef sem fantasia'', entre outras coisas diz que ''há muitos 'ouvi dizer', contradições e meias informações a granel, no que transborda do inquérito''. 

Sim, as delações premiadas, tanto de Paulo Roberto Costa, quanto de Alberto Youssef, e mais recentemente de Pedro Barusco, que deveriam estar sendo colhidas em sigilo de justiça, vazam quase todos os dias à imprensa. E os vazamentos invariavelmente citam o PT. Ilegalidade cometida dentro de um órgão que deveria combatê-la a todo custo.

Aliás, de acordo com a Lei, esses vazamentos, seletivos ou não, seriam motivo para que os depoentes perdessem o benefício da delação premiada.

Dentro de uma máquina bem azeitada, com várias peças funcionando em harmonia nos setores vitais da Nação, como Câmara dos Deputados, partidos de oposição, Ministério Público, Polícia Federal, Judiciário e grande mídia, lentamente a Petrobras e a presidenta Dilma Rousseff vão, aos poucos, sendo moídos e triturados.

Da Petrobras (que ganhou recentemente o prêmio Offshore Technology Conference 2015)
querem arrancar seus adjetivos mais importantes como ''orgulho nacional'' e ''maior empresa petrolífera de capital aberto do mundo'', desvalorizando-a ao máximo para extinguir o regime de partilha do Pré-Sal, transformando-o de volta em concessão, ou, pior ainda (para nós), vendê-la a preços módicos como fizeram com a Vale do Rio Doce.

De Dilma querem o mandato. Se não der através do impeachment, como parece que não dará mesmo, será através de sua sangria e do controle parasitário de seu governo, aproveitando-se de seu letargo em reagir.

A urdidura está sendo bem feita.

E a presidenta e os deputados de seu partido colaboram decisivamente para isso, não esboçando reação alguma. Vemos mais deputados de outros partidos, como Jandira Feghali, defendendo o governo do que os do PT...

O instituto da delação premiada, também conhecido como extorsão premiada, encontra muitos críticos de peso, como Miguel Reali Jr. que se posiciona contrariamente à maneira como o juiz Moro anda usando o instrumento: através de prisões preventivas estendidas por tempo indeterminado, para forçar os presos a colaborarem.

E esse longo tempo de exposição à mídia é muito conveniente para a sangria de Dilma.

Mas quem é esse Alberto Youssef?
Nada mais nada menos que um crápula, um bandido que, segundo seu advogado Antonio Figueiredo Basto, que tem o doleiro como cliente desde 2000, quando negociou também a delação premiada no caso Banestado (Youssef poderia pegar 478 anos de prisão e saiu, segundo Basto, “zerado”, sem pena a cumprir), está ajudando a desvendar a corrupção na Petrobras.

É portanto, a segunda vez!

Um dos requisitos para que se usufrua da delação premiada é ser réu primário. Como Youssef saiu ''zerado'' do processo do Banestado, ele preenche essa condição, mesmo sendo reincidente!

Cabe saber se a palavra do doleiro merece credibilidade.

Tudo o que ele e os outros envolvidos falam agora para ser vazado na imprensa, nos depoimentos por escrito, tem que ser provado.

O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, outro beneficiado pelo instrumento, declarou que o PT recebeu 200 milhões do esquema. A mídia se apressou em bradar a notícia aos 4 ventos, dando como verídica a declaração, e omitindo que ele disse que trabalhava no esquema desde 1997, quando o presidente era FHC.

O ônus da prova pertence ao acusador e não ao acusado.

Na acusação a Zé Dirceu, também.

Bem, então podemos nos sentir confortados? A Justiça prevalecerá, falará mais alto, e os culpados (os verdadeiros, mas não ''os suspeitos de sempre'') serão presos?

No caso do julgamento da Ação Penal 470, o chamado ''mensalão'', não funcionou assim.

Embora a maioria das pessoas acredite piamente que justiça foi feita (e falar o contrário sempre é um risco), o fato é que naquele julgamento, Zé Dirceu foi condenado (e execrado, primeiro pela mídia, depois pelas pessoas) com base na chamada Teoria do Domínio do Fato, criada pelo alemão Claus Roxin para que se pudesse prender criminosos da Segunda Guerra. Esta teoria está obsoleta nos dias de hoje, e foi aplicada, segundo Roxin, de maneira equivocada no caso.

Pela teoria, Dirceu teria que, por ser ministro chefe da Casa Civil, obrigatoriamente ter conhecimento dos desvios.

Que desvios?

Desvios denunciados como sendo de dinheiro público, mas que na verdade eram recursos do Fundo Visanet, privado.

O julgamento foi totalmente midiático, conduzido por um juiz vaidoso e implacável, mais ou menos como o juiz Moro, agora...








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