sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Quem vence as eleições?

Por Fernando Castilho

Quando se lê pesquisas para Presidente da República, normalmente se tem uma fotografia da evolução que cada candidato vive na disputa. Porém, ao nos debruçarmos sobre elas detidamente, começamos a enxergar algumas coisas interessantes. É como se a pesquisa começasse a falar conosco.

Vejamos.
Na pesquisa Datafolha de julho, Dilma estava com 36%, Aécio com 20% e Campos com 8%.
Na última pesquisa, realizada com o defunto Eduardo Campos ainda quente, portanto altamente influenciada pela emoção, e já com Marina Silva em seu lugar, Dilma manteve os 36% (!), Marina aparece com 21% (!) e Aécio assume a terceira colocação mantendo seus 20% (!).

Se Dilma e Aécio não perderam votos, de onde saíram os votos de Marina? 
Ora, daqueles que votariam em branco ou que anulariam seu voto. Dos que são contra a política, e dos que são contra tudo que está aí. De muitos daqueles que saíram às ruas em junho de 2013. Daqueles que não são de direita, nem de esquerda, muito pelo contrário, mas que são contra o PT (que é de esquerda...). Bem, mas isto todo mundo já sabe.

Mas vamos nos atentar a um detalhe: a avaliação de governo de Dilma na pesquisa de julho era de 32%. Nesta nova subiu para 38%! Seis pontos. Nada mal.

Portanto, provavelmente Marina tirou alguns eleitores de Dilma. Mas com a melhora na avaliação de seu governo, a presidenta conseguiu se segurar nos 36%.

E Aécio? Manteve mesmo os 20%?
Para este blogueiro essa tese não se sustenta. Por duas razões:
O escândalo do aeroporto clandestino construído na fazenda de seu tio-avô com dinheiro público, e mais, superfaturado, foi publicado, imaginem, pela Folha de São Paulo, um dos órgãos da mídia que mais blindaram o tucano até agora!

Embora a matéria não durasse mais que alguns poucos dias, e a Folha tenha sido preguiçosa em não enviar repórteres para esmiuçar o caso (não foi ninguém do PT que construiu o aeroporto), uma vez que há muito mais a ser denunciado, isso deve ter afetado a imagem que ele tenta divulgar de gestor sério.

Além disso, o Jornal Nacional em sua série de entrevistas de 15 minutos com os presidenciáveis, cobrou do tucano explicações sobre o aeroporto. Explicações que ele não conseguiu dar.

Aécio deve ter caído nas pesquisas. Deve estar na faixa de 15% ou até menos. Reparem que ele deu uma sumida. A coordenação de campanha deve estar aturdida, fazendo contas e avaliando o que vem pela frente com o fator Marina. fora que no horário eleitoral está fraquíssimo, tentando passar uma imagem de colarinho engomado que não convence ninguém, pois sua fama é outra.

E por que esses índices não foram divulgados?
Ora, porque 20% ainda é um índice que lhe permite negociar alguma coisa. Já com 15%, seu poder de influência cai. Além disso, quando uma queda dessas acontece, a tendência é rolar pela ribanceira em efeito domino. Deixaria de ser um dos protagonistas.


Trackings tem sido feitos a partir de ligações telefônicas, pelos principais partidos, onde já se detecta uma subida de Marina e uma queda de Aécio.

Pesquisa Ibope que será divulgada na terça-feira, 26 já mostrará um salto de Marina. 

E por que a mídia, os mercados e a direita inflaram Marina?
Somente para tentarem provocar o 2° turno. Não vendo condições de encaçapar a bola, deram uma tacada forte pra ver no que dava.

Esperavam que com a entrada da ex-senadora, os índices de Dilma despencassem. Daí, garantido o 2° turno, iniciariam a desconstrução de Marina e inflariam Aécio, seu verdadeiro candidato. Por isso o Jornal Nacional ao entrevistar Dilma, mostrou um William Bonner espumando desesperado.

Estamos assistindo agora algo raro de se ver: a mídia parece dividida. 
Estadão está com medo. Afirma que ''Marina presidente é prenúncio de uma crise depois da outra". 

Folha, através do colunista Fernando Rodrigues, arrancou muita informação da Neca (Maria Alice Setúbal), herdeira do Itaú e coordenadora do programa de governo de Marina), que parece estar dando as cartas na área econômica. O jornal parece discretamente levantar as contradições da ex-senadora.


Globo optou por tentar passar um verniz neoliberal em Marina. Parece tentar seduzí-la com o mercado. 

Pois bem, iniciado o horário eleitoral, Marina, que tem pouco tempo na TV, vai ter dificuldade em apresentar suas propostas. Além disso, suas propostas não são necessariamente as do PSB. Não haverá tempo hábil para montar o Frankenstein. 

As contradições vão aparecer. Marina já mudou de opinião em relação a seu candidato ao Senado, que em princípio era Suplicy, e agora virou Serra...Além disso, os rachas no PSB já começam a aparecer. Haverá uma fragmentação inevitável.

Embora Marina tenha afirmado que não dividirá palanques com o PSDB, seu vice, lobista da Monsanto e de indústrias de armamentos (que Marina deplora), o fará. E o povo terá dificuldade em se situar. Afinal, que tipo de candidato é esse que é mas não é?

Mas, e se houver 2° turno? Quem vai?
Dilma estará com certeza. Com quem?
Se for com Marina, os tucanos e seus aliados migrarão com certeza para a ex-senadora. Terá grandes possibilidades, mas ficará caracterizada de vez sua adesão à velha política e ao neoliberalismo. Corre algum risco com sua mudança de imagem? Nenhum. 500 mil militantes decepcionados da Rede não lhe farão falta.

Se for Aécio, poderá acontecer o que aconteceu em 2010, quando Marina liberou o voto. Nesse caso, alguns setores do PSB apoiariam Dilma e outros, Aécio. A disputa pode ficar pau a pau. Mas duvido que isso aconteça.

Mas, e na hipótese de Marina Silva vencer as eleições?
Qual será o perfil ideológico desse governo?
Embora o governo do PT não seja socialista e nem de esquerda autêntica, ainda é o que mais se apresenta à esquerda, dentro das possibilidades de governabilidade. Avançou em questões que a direita ainda não digeriu, como os programas de transferência de renda, por exemplo. E teve que ceder muito para conseguir isso. Muitas vezes teve que dar os aneis para não perder os dedos. É inegável.

Mas um governo do PSB com Marina à frente? Qual o perfil?
O PSB, embora tenha quadros do naipe de Luíza Erundina, é socialista só no nome. Está hoje mais identificado com setores da direita.
Marina Silva desde há muito deixou de ser referência para a esquerda. Veja que as adesões a ela vieram dos apolíticos. Além disso ela não incorpora elementos de esquerda em seu discurso.

Quando há esse vazio ideológico, os espaços são facilmente preenchidos pela direita e seus neoliberais. O agronegócio, o tripé macroeconômico, o estado diminuto, as privatizações, redução do salário mínimo, choque de gestão, blá, blá, blá...

Não tenhamos dúvidas. Se Marina Silva for eleita, ao contrário de muitos que acham que ela será como Collor, que governou com minoria no Congresso, este blogueiro acha que ela poderá ter sim, maioria.

Para isso, serão bem-vindos o DEM, o PTB, o Solidariedade do Paulinho da Força, o PPS e o PSDB.

Ah, e é claro, os fisiológicos de sempre. O PMDB.







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