domingo, 4 de maio de 2014

Esse moços, pobres moços...

Por Fernando Castilho

Esses moços, pobres moços
Ah! Se soubessem o que eu sei...

Peço licença ao grande compositor Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974), para usar um trecho de sua música para ilustrar este texto.

Pobres moços esses que, por não ter vivido os anos FHC e também os anteriores, não conseguem termo de comparação ao governo atual.


O primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso teve início em 1º de janeiro de 1995.
Embora se considere que FHC foi o pai do Plano Real, já está provado que foi Itamar Franco, de quem ele foi ministro, quem o idealizou.

Nesse período de primeiro governo, o país começava a viver uma expansão econômica, depois de sofrer os efeitos de várias crises internacionais nos anos anteriores. A expansão econômica embrionária, no entanto, trouxe efeitos colaterais sérios, gerados pela ausência de investimento e planejamento em produção de energia no Brasil, que não se organizara para seu crescimento.

Tendo Fernando Henrique incentivado o fluxo de capitais externos especulativos de curto prazo no Brasil (hot money) que supostamente inundariam o país para equilibrar o balanço de dólares, exatamente o oposto do desejado se deu: a cada crise que surgia em outros países emergentes, a economia brasileira sofria uma retirada abrupta desses capitais internacionais especulativos, o que obrigava FHC a pedir socorro ao FMI, o que fez três vezes.

No seu governo, a dívida pública do Brasil, que era de US$ 60 bilhões em julho de 1994, saltou para US$ 245 bilhões em novembro de 2002,

Em maio de 1997 grampos telefônicos publicados pela Folha de S. Paulo revelaram conversas entre o então deputado Ronivon Santiago e outra voz identificada no jornal como Senhor X. Nas conversas, Ronivon Santiago afirma que ele e mais quatro deputados receberam 200 mil reais para votar a favor da reeleição, pagos pelo então governador do Acre, Orleir Cameli.

Mesmo após várias tentativas de CPI, essa e outras denúncias de corrupção nunca foram levadas adiante, devido a uma operação abafa posta em prática pelo governo e seus correligionários. Além disso, o Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro, era o encarregado de engavetar todas as denúncias.

Após toda uma década sem investimentos na geração e distribuição de energia elétrica no Brasil, na passagem de 2000 para 2001, um racionamento de energia foi elaborado às pressas e atingiu diversas regiões do Brasil, principalmente a Região Sudeste. O Governo FHC foi surpreendido pela necessidade urgente de cortar em 20% o consumo de eletricidade em quase todo o País

Continuado no governo Fernando Henrique, o processo de privatização ocorreu em vários setores da economia: a Companhia Vale do Rio Doce, empresa de minério de ferro e pelotas, a Telebrás, monopólio estatal de telecomunicações e a Eletropaulo.

O resultado final das privatizações revelou um aspecto peculiar do programa brasileiro: algumas aquisições somente foram feitas porque contaram com a participação financeira dos fundos de pensão das próprias empresas estatais (como no caso da Vale) ou da participação de empresas estatais de países europeus

Há ainda que se lembrar os baixos valores obtidos com as privatizações.
O documento "O Brasil não esquecerá - 45 escândalos que marcaram o governo FHC", de julho de 2002, elenca casos como Sudam, Sivam, Proer, caixa-dois de campanhas, TRT paulista, calote no Fundef, mudanças na CLT, intervenção na Previ e erros do Banco Central. A intenção da Revista Consciência.Net em divulgar tal documento não é apagar ou minimizar os erros do governo que se seguiu, mas urge deixar este passado obscuro bem registrado. Leia o documento.



Por todo o exposto, considerando que jovens até a idade hoje de 25 anos, no ínicio do Governo Lula, em 2003, tinham somente 14 anos, o que os impede de ter uma análise completa do período FHC, para que possam fazer uma comparação em relação aos Governos Lula e Dilma.

Para eles, que eram muito jovens, os avanços seriam considerados naturais e até lentos.
A mídia se encarregaria de lhes fornecer uma leitura bem diferente do que foram esses anos, nos jornais e revistas (para quem ainda se dá ao trabalho de ler) e nos telejornais.

Há ainda que se considerar que a esses jovens foi vendida a ideia da meritocracia, talvez a mais perversa forma de iludir quem não nasceu em berço de ouro, ao transformar os 99,9% de desafortunados, em fracassados fadados a carregar sua cruz até a morte.

Os moços que graças às políticas de combate à desigualdade social levadas a cabo nos últimos 10 anos, saíram da linha de pobreza e passam a integrar a chamada classe C, conseguiram, pagando prestações, comprar seu carro 0 Km, sua TV 40 polegadas, usam tênis e roupas de marca, iphone, viajam de avião, etc.

Naturalmente querem mais. Sentem que podem ascender mais ainda socialmente.
E na ausência da esquerda, é a direita que os está recrutando como os mais novos soldados do capitalismo. Isso mesmo, são os chamados hoje em dia de coxinhas.

A direita vendeu-lhes a ideia de que hoje em dia falar de direita e esquerda, luta de classes e divisão entre capital e trabalho é bobagem.

Marilena Chauí tem razão em chamar a classe média de fascista, violenta e ignorante, afinal, está a reproduzir o tratamento que recebeu enquanto era pobre.

Mas como um assalariado pode defender o capital, flertando com ele? Uma espécie de síndrome de Estocolmo? Não percebe que, se neoliberalismo voltar, se o salário mínimo deixar de subir, se o país for colocado na recessão que a oposição defende, se cessarem as políticas de transferência de renda, se o microcrédito deixar de existir, ele corre sério risco de voltar à linha de pobreza?



No 1º de maio assistimos atônitos o Paulinho da Força fazer campanha para Aécio Neves, o homem que defende todas essas medidas impopulares, para uma platéia de milhares de trabalhadores. E o homem foi aplaudido e Dilma vaiada.
Dá pra entender?

Dá sim. Se a esquerda não ocupa espaço para informar, a direita aproveita e ocupa.
Ao invés de a Secom, Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal pagar a veiculação de propagandas bonitinhas nos órgãos da mídia, passar a informar seriamente, e até mesmo a desmentir as mentiras que a imprensa publica, vai passar a haver um contraponto àquilo que determinado comentarista fala.

Já que a imprensa não divulga os desmentidos, que se compre espaços para publicá-los.
E se isso não bastar, que se impertre liminares que obriguem a imprensa a desmentir suas falácias, e a se retratar em caso de ofensa à honra.

Como gostaria de ver Reynaldo Azevedo tendo que publicar um desmentido ou uma retratação em sua coluna.
Assim como fez Leonel Brizola com a Globo.









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